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sexta-feira, novembro 22, 2013

EMDR NA INFÂNCIA: VOLTAR A PÔR AS COISAS NO LUGAR

«A Dessensibilização e o Reprocessamento pelo Movimento Ocular é um método psicoterapêutico eficaz na resolução de dificuldades emocionais causadas por experiências perturbadoras, difíceis ou assustadoras. Quando as crianças estão traumatizadas, têm experiências perturbadoras ou fracassos repetidos perdem o sentimento de controlo sobre as suas vidas. Tal pode resultar em sintomas de ansiedade, depressão, irritabilidade, raiva, culpa e/ou problemas comportamentais. Sabemos que eventos como acidentes, abusos, violência, morte e desastres naturais são traumáticos, mas nem sempre reconhecemos de que forma afetam a vida quotidiana das crianças. Mesmo os eventos perturbadores mais comuns como o divórcio, os problemas na escola, as dificuldades com os pares, os insucessos, e os problemas familiares podem afetar profundamente o sentimento de segurança, a auto-estima e o desenvolvimento da criança.

Por vezes, quando acontece uma experiência perturbadora, assustadora ou dolorosa, a memória fica “bloqueada” ou “congelada” na mente e no corpo. A experiência pode voltar de modo angustiante e intrusivo. A criança pode reagir através do evitamento de tudo o que esteja associado à experiência perturbadora. Por exemplo, quando uma criança experimenta um grave acidente de bicicleta, pode haver pesadelos repetidos, medo de tentar novas coisas e evitamento de tudo que estiver relacionado com bicicletas.

A maioria dos especialistas acredita que a melhor forma de desbloquear e libertar-se dos sintomas é através da exposição à experiência traumática. Isto significa enfrentar as memórias ou os eventos problemáticos até deixarem de ser perturbadores.

O EMDR utiliza uma estimulação dual (bilateral) da atenção, que significa o varrimento alternado esquerda-direita, que pode ser pelo movimento dos olhos, sons ou música em cada ouvido, ou estimulação táctil, como batidas leves alternadas nas mãos. Têm sido desenvolvidas alternativas criativas para as crianças, que incorporam a estimulação dual da atenção através de fantoches, histórias, dança, arte, e até natação.
O EMDR ajuda a resolver os pensamentos e sentimentos problemáticos associados às memórias, de modo a que as crianças possam voltar às tarefas normais do desenvolvimento e aos níveis anteriores de funcionamento. Para além disso, o EMDR ajuda a fortalecer os sentimentos de confiança, calma e mestria.

Como é uma sessão de EMDR?

O EMDR é parte de uma abordagem terapêutica integrada, sendo frequentemente usada em conjunto com outras práticas como a ludoterapia, a terapia pela palavra, a terapia comportamental e a terapia familiar. O EMDR será explicado e usado com o consentimento da família e da criança.

Uma sessão típica de tratamento EMDR começa de uma forma positiva, levando a criança a usar a sua imaginação para fortalecer o seu sentimento de confiança e bem-estar. Por exemplo, pode pedir-se à criança que imagine um lugar seguro ou protegido, onde se sente relaxada, ou que se lembre de uma situação em que se sentiu forte e confiante. Estas imagens, os pensamentos e os sentimentos positivos são depois combinados com movimentos oculares ou outras formas de estimulação dual (bilateral) da atenção. Estas experiências iniciais com o EMDR oferecem à criança o aumento de sentimentos positivos e ajudam-na a saber o que esperar.

Em seguida, pede-se à criança que aborde uma memória perturbadora ou um evento relacionado com o problema apresentado. A estimulação dual da atenção é novamente usada enquanto a criança se foca na experiência perturbadora. Quando uma memória perturbadora é “dessensibilizada”, a criança consegue enfrentar eventos do passado sem se sentir perturbada, assustada ou evitante. “Reprocessamento” significa apenas que uma nova compreensão, outras sensações e novos sentimentos podem ser associados aos anteriores pensamentos, sentimentos e imagens perturbadores. As memórias problemáticas podem ser mais confortavelmente evocadas como “simplesmente algo que aconteceu”, e as crianças mais facilmente acreditam que “Acabou”, “Agora estou seguro”, “Fiz o melhor que pude, não é culpa minha”, “Tenho outras opções agora”.

O EMDR pode ajudar o meu filho?

O EMDR pode ser usado tanto com crianças pequenas, como mais velhas, e adolescentes. Estudos de caso indicam que o EMDR tem sido usado com sucesso em crianças pré-verbais, bem como com adolescentes que não querem falar sobre os assuntos perturbadores. Como em qualquer outra intervenção, quanto mais nova ou quanto mais evitante for a criança, maior o desafio na procura de formas de a envolver e de focar a sua atenção no problema. É benéfico que os pais e os profissionais expliquem que o EMDR é uma forma de ultrapassar os pensamentos, sentimentos e comportamentos inquietantes. O EMDR tem sido usado para ajudar crianças a lidar com eventos traumáticos, depressão, ansiedade, fobias e outros problemas comportamentais.

O processo EMDR é diferente com cada criança, porque a cura é guiada a partir de dentro. Algumas crianças descrevem que o EMDR é relaxante e têm uma resposta positiva imediata. Outras crianças podem sentir-se cansadas no final da sessão, e os benefícios serem observados nos dias que se seguem. Uma menina de 10 anos esteve engessada durante um ano e estava preocupada com lesões, doenças e morte devido a um acidente traumático. Depois do EMDR começou a chorar lágrimas de alegria e disse “Estou tão feliz, acabou mesmo e eu sou forte”. Um rapaz de 5 anos com problemas de comportamento, cujo terapeuta trabalhava com outras técnicas, e experimentou EMDR disse “Porque é que não fizeste isto comigo antes?”. Outro rapaz de 8 anos que mantinha pesadelos disse “Eles simplesmente saltaram da minha cabeça, os monstros desapareceram”. Outras crianças dizem muito pouco, mas o seu comportamento muda e os pais dizem “As coisas estão a voltar ao lugar”.»

Esta publicação é uma tradução parcial e informal da brochura informativa da autoria da EMDR International Association (EMDR &Children- Guide for Parents, Professionals, and Others Who Care About Children)

Alexandra Barros
Psicóloga e Psicoterapeuta (Delegação de Lisboa)
Diretora do Departamento de Infância
alexandra.barros@psicronos.pt 

A Psicronos tem psicoterapeutas formados em EMDR na Infância (Delegaçoes de Lisboa e Faro/Portimão)

quarta-feira, outubro 30, 2013

EMDR em Grávidas Parte 1

Quando fiz a minha formação básica em EMDR, foi-me dito que esta psicoterapia tinha algumas contra indicações no seu uso. Fiquei curioso durante uma fracção de segundo, uma vez que o formador me disse imediatamente quais eram os casos em que não se recomendava a utilização de EMDR. Em grávidas, em pessoas com epilepsia, em pessoas com doença Bipolar, e em pessoas que sofressem de psicoses.

Compreendi o que o formador me disse e segui à risca as directrizes.

Recentemente algo veio colocar em causa os ensinamentos básicos do curso e abrir novas possibilidades de trabalho com mulheres grávidas.

Como todos sabemos, a gravidez é uma altura da vida das mulheres que pode gerar muita ansiedade, como tal, alguns problemas já existentes poderão surgir justamente nesta altura. Lembro-me de uma paciente que tinha interrompido a sua terapia um ano antes, uns meses antes de engravidar, e voltou á terapia porque voltou a ter sintomas de ansiedade extrema. Sem conseguir deixar de pensar em dúvidas acerca do bebé que está em gestação.

Eu na primeira fracção de segundo fiquei tão aflito quanto a paciente… mas depois respirei e delineei um plano de intervenção sem EMDR, afinal antes de existir EMDR também se tratava a ansiedade!
As estratégias de relaxamento muscular voltaram a ser usadas, não me podia esquecer da atitude de Mindfullness nem dos registos de pensamentos automáticos.

Na segunda sessão utilizei uma técnica de EMDR, conhecida como lugar seguro, não tinha ficado satisfeito com os progressos da minha paciente apenas com as técnicas de relaxamento e Mindfullness, era pouco para mim que estou habituado a ver melhorias significativas. Os resultados no final da sessão eram muito bons, a paciente estava bem mais calma e relaxada. Era como se o efeito do treino de relaxamento tivesse sido multiplicado por 10.

Tudo correu bem até ás sensações de desconforto se voltarem a manifestar e consequentemente os pensamentos automáticos de dúvida. Nesta intensifiquei as minhas pesquisas acerca de artigos sobre EMDR e consegui encontrar este artigo: http://www.examiner.com/article/treating-birth-trauma-with-emdr-part-one

Ao ler esta informação obtive a validação para avançar com mais confiança com um protocolo clássico de EMDR. Foi muito interessante o que aconteceu nas sessões seguintes, os pensamentos ansiogénicos desapareceram e as sensações desconfortáveis habituais das mulheres grávidas passaram a ser interpretadas sem ansiedade. Surgiu de imediato a questão “como é que foi tão rápido? Como é que pensamentos obsessivos que até então tinham sido tão resistentes ao tratamento com Terapia Cognitiva e mesmo com terapia EMDR agora tinham simplesmente desaparecido?”


Para responder a esta pergunta farei uma segunda parte deste artigo dentro de dias em conjunto com o meu colega Diogo Gonçalves.