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quinta-feira, novembro 28, 2013

O "efeito de desinibição" - Atendimento Online (II)


Na semana passada caracterizámos brevemente o efeito de desinibição no mundo virtual da internet e meios de comunicação à distância. Neste semana o objetivo é percebermos melhor as razões deste fenómeno.

Como a imagem sugere, um dos fatores que potencia o efeito de desinibição é a perceção de (falta ou pouca) exposição que a pessoa tem. As redes sociais, chats ou comentários a blogs ou notícias são alguns exemplos mais comuns em que o participante tem um controlo elevado da forma como se expõe e do que expõe de si: pode mostrar uma foto de identificação (com toda a criatividade que a escolha do tipo de foto envolve), pode mostrar o seu nome real ou imaginário, pode querer comunicar por voz e/ou vídeo, pode revelar fatos íntimos ou comunicar o menos possível, pode investir, representando, uma persona (uma parte de si ou alguém externo), pode entrar e sair em apenas um click.

Ou seja, fatores que permitem um controlo sobre a invisibilidade e anonimato tendem a facilitar uma maior sensação de segurança e controlo da relação. O efeito de desinibição surge assim em complementaridade com a possibilidade de controlar e compensar sentimentos de vulnerabilidade decorrentes de uma maior exposição.  Pode por isso facilitar, por exemplo, expressões livres de agressividade por não haver, muitas vezes, uma identificação associada, passível de ser responsabilizada. 

Este efeito pode também ser aproveitado em terapia online em pessoas que tenham uma fobia social intensa. Nestes casos, o fato de ser visto e o grande medo de poder ser criticado ou rejeitado, leva a que estas pessoas (com uma história de relações pouco apoiantes) se sintam mais seguras em começar uma relação terapeutica através de um mediador comunicacional que lhes permita dosear a exposição. Poderá começar por mail ou chat, evoluir para o telefone, podendo continuar com a video-conferência e, se houver possibilidade e fizer sentido, desembocar numa relação psicoterapêutica in vivo.


quinta-feira, novembro 07, 2013

ATENDIMENTO À DISTÂNCIA - uma vantagem das tecnologias de comunicação



Um dos temas que temos falado aqui no nosso Blog Salpicos, é a forma como as "novas" tecnologias de comunicação têm revolucionado o nosso mundo. As dimensões do espaço e do tempo, nomeadamente, têm sido consideravelmente modificadas no que respeita ao mundo das relações humanas e da troca de informação.

Tudo tende a ser imediato e omnipresente (contração ou condensação subjetiva do tempo e do espaço): o telefone, as redes sociais, a internet, a televisão, permitem-me estar ligado virtualmente a todo o mundo, quer no momento (online), quer em diferido através de mensagens em diferido ou da capacidade crescente dos meios de comunicação de armazenamento de informação (offline) (veja-se, por exemplo, a possibilidade recente de aceder a toda a programação televisiva dos últimos 7 dias).

Vantagens

Uma das vantagens que aqui me interessa salientar neste post, é a possibilidade do atendimento à distância. O atendimento à distância consiste em ajudar psicologicamente uma pessoa sem que para isso tenha de haver um encontro num local físico, geograficamente determinado (e condicionado). Esta é uma das vantagens, não só da evolução das tecnologias de comunicação, como do meio privilegiado de intervenção em psicologia e psicoterapia: a palavra inscrita no discurso e contexto comunicacional entre 2 (ou mais) pessoas. 

O discurso e a troca comunicacional mantém-se em todas as modalidades de comunicação, incluindo chat e mail onde pode haver uma troca em direto ou em diferido de mensagens. O contexto comunicacional de base é que varia muito. Por exemplo, no interior da comunicação presencial mais comum (por enquanto...) existe um contexto comunicacional constituído pela comunicação não-verbal, muito importante no contexto clínico. Permite um feedback praticamente constante sobre as reações emocionais do interlocutor que permite ouvir para além das palavras, ajudando a contextualizá-las e compreendê-las melhor. 

Com a comunicação por video-conferência, por exemplo, é mantido este tipo de comunicação, verbal, não verbal (e para-verbal) pela possibilidade de ver e ouvir o interlocutor. Noutras modalidades como o telefone, perde-se a comunicação não-verbal mas acentua-se e releva-se a comunicação para-verbal (entoação, silêncios, ritmo, etc.). Intuem-se sorrisos, imaginam-se posturas, fantasiam-se expressões faciais. 

O que se perde em riqueza comunicacional por outras vias, ganha-se através de um aprofundar e intensificar da comunicação verbal e para-verbal, bem como, através da expansão do "espaço potencial" de encontro e desencontro (alternado) que o mistério da comunicação "às cegas" incita. É pois uma oportunidade para explorar fantasias e sentimentos que este setting relacional fomenta, à semelhança do uso do divã em psicanálise (onde ambos, analista e analisando, ficam também fora do alcance da vista um do outro). 

Concluindo e abreviando, cada modalidade de comunicação tem os seus prós e contras mas o que a investigação científica sistemática tem vindo a demonstrar há mais de uma década, é que, praticamente todas elas (as modalidades de atendimento) têm um grau de eficácia semelhante ao do atendimento presencial convencional.

Desvantagens

Uma das desvantagens ou perigos desta mudança difícil de assimilar em tão pouco tempo, é a perda de valores mais básicos sobre as capacidades e limites humanos, bem como, as prioridades e o próprio sentido da vida. O que é que isto quer dizer? Quer dizer que estamos expostos e sujeitos a uma quantidade de informação proveniente do exterior muito difícil de gerir e filtrar. 

As questões básicas da existência humana sobre o sentido da vida e os valores da mesma dificilmente conseguem permanecer em aberto - como questões que são, em constante re-equacionamento - perante uma quantidade enorme e constante de informação-barulho, cujo objetivo é, frequentemente, criar reações, neo e pseudo-necessidades, distrair e ocupar. Os interesses do mercado e dos poderes politico-económicos estão por trás de quase toda a comunicação e informação a que estamos expostos de uma forma, cada vez mais, passiva, inconsciente e reativa. Ou seja, o espaço e tempo de reflexão, de liberdade e de dúvida tende a ser tamponado com o enxorilho de distrações, pseudo-soluções e respostas para todo e qualquer problema (sobretudo problemas criados a pensar nas soluções que nos querem vender). 

Always in touch  pode também revelar-se um problemático never in touch com o que de íntimo, profundo e verdadeiro há em cada um de nós. É neste contexto que se sente uma vaga generalizada no mundo ocidental de sentimentos de vazio, tédio e paradoxalmente (ou não) de solidão. Permanentemente em contacto com os outros (aparentemente) sempre presentes, pode descambar numa ausência de tempo e espaço "verdadeiros" para encontros íntimos e profundos, única forma de nos sentirmos preenchidos e satisfatoriamente in touch connosco mesmos, com os outros e com o mundo.