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quarta-feira, fevereiro 23, 2011

O ACENO

Chamei a esta foto "O Aceno". E lembrei-me de um dos meus poemas favoritos, de Stevie Smith:

Not Waving but Drowning

Nobody heard him, the dead man,
But still he lay moaning:
I was much further out than you thought
And not waving but drowning.

Poor chap, he always loved larking
And now he's dead
It must have been too cold for him his heart gave way,
They said.

Oh, no no no, it was too cold always
(Still the dead one lay moaning)
I was much too far out all my life
And not waving but drowning.
Stevie Smith
(via poem hunter http://www.poemhunter.com/)

quarta-feira, abril 21, 2010

AINDA A MELANCOLIA (II)

Na poesia, a melancolia parece ser mais fácil de representar. O primeiro excerto é de um poema de Virgílio Ferreira e o segundo de Mallarmé.

sábado, abril 17, 2010

NOTHING GOLD CAN STAY (ROBERT FROST)

NOTHING GOLD CAN STAY

Nature's first green is gold,

Her hardest hue to hold.

Her early leaf's a flower;

But only so an hour.

Then leaf subsides to leaf.

So Eden sank to grief,

So dawn goes down to day.

Nothing gold can stay.



Robert Lee Frost

segunda-feira, abril 12, 2010

EXCERTO DE UM POEMA DE NATÁLIA CORREIA

Pusemos tanto azul nessa distância
ancorada em incerta claridade
e ficamos nas paredes do vento
a escorrer para tudo o que ele invade.

Pusemos tantas flores nas horas breves
que secam folhas nas árvores dos dedos.
E ficámos cingidos nas estátuas
a morder-nos na carne dum segredo.


Excerto de um poema de Natália Correia (O Livro dos Amantes)

domingo, março 14, 2010

INSINCERIDADE (Vasco Graça-Moura)





Insinceridade

quis-nos aos dois enlaçados
meu amor ao lusco-fusco
mas sem saber o que busco:
há poentes desolados
e o vento às vezes é brusco

nem o cheiro a maresia                           (foto: CP)
a rebate nas marés
na costa de lés a lés
mais tempo nos duraria
do que a espuma a nossos pés

a vida no sol-poente
fica assim num triste enleio
entre melindre e receio
de que a sombra se acrescente
e nós perdidos no meio

sem perdão e sem disfarce,
sem deixar uma pegada
por sobre a areia molhada,
a ver o dia apagar-se
e a noite feita de nada

por isso afinal não quero
ir contigo ao lusco-fusco,
meu amor, nem é sincero
fingir eu que assim te espero,
sem saber bem o que busco.

Vasco Graça Moura, in Antologia dos Sessenta Anos

segunda-feira, março 08, 2010

Poema do século XX - Fernando Pessoa

Por falar no amor lembrei-me da primeira parte de um dos meus poemas preferidos que pode ser relacionada com a auto-compaixão (ou amor próprio), a verdade e o sofrimento humano:


A criança que fui chora na estrada.

Deixei-a ali quando vim ser quem sou;

Mas hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou.


(...)

sábado, março 06, 2010

POEMA DO SEC XVII: Marbeuf

ET LA MER ET L'AMOUR ONT L'AMER POUR PARTAGE


Et la mer et l'amour ont l'amer pour partage,

Et la mer est amère, et l'amour est amer,

L'on s'abîme en l'amour aussi bien qu'en la mer,

Car la mer et l'amour ne sont point sans orage.



Celui qui craint les eaux qu'il demeure au rivage,

Celui qui craint les maux qu'on souffre pour aimer,

Qu'il ne se laisse pas à l'amour enflammer,

Et tous deux ils seront sans hasard de naufrage.



La mère de l'amour eut la mer pour berceau,

Le feu sort de l'amour, sa mère sort de l'eau,

Mais l'eau contre ce feu ne peut fournir des armes.



Si l'eau pouvait éteindre un brasier amoureux,

Ton amour qui me brûle est si fort douloureux,

Que j'eusse éteint son feu de la mer de mes larmes

 
Pierre de MARBEUF (1596-1645)

quarta-feira, março 03, 2010

O AMOR (Eugénio de Andrade)


O Amor

Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.

A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.

A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.

Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável

A marcar sobre os teus flancos
o itinerário da espuma

Assim é o amor: mortal e navegável.

Eugénio de Andrade  ("Obscuro Domínio")

domingo, fevereiro 28, 2010

POESIA: "TERNURA"

As nossas vidas estão uma chatice. É a crise, quando não mesmo o desemprego, a falta de perspectivas para o futuro, a sensação de que estamos a ser mal governados e que vamos acabar, como país, numa espécie de pobreza envergonhada, sem saída. País de velhos de onde os jovens com mais competências e/ou mais coragem já emigraram.
Estamos com falta de imaginação, de criatividade, de gosto pela vida. Ensimesmados, carregamos um fardo de séculos aos ombros, e já não há lugar para o prazer, para o gozo, para o lúdico, para a originalidade. Para a alegria de viver.
A poesia é, de certo modo, uma panaceia. Eu sei. Não é ela que nos irá assegurar a redução do défice, ou evitar a diminuição (fatal) do poder de compra. Mas a poesia permite-nos ver, no meio da desesperança, que é possível a vida, e a palavra que também faz a vida. E que os amantes são eternos.
Assim, decidi começar a publicar aqui os meus poemas preferidos, em português. No blog em inglês (http://lisboncpc.blogspot.com) encontrarão os meus poetas anglo-saxónicos preferidos.E começo hoje com um poema de David Mourão-Ferreira, um grande, enorme, poeta que eu ainda conheci pessoalmente e que sabia do que falava.



Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira, in Infinito Pessoal
(Fonte: citador.pt)

sexta-feira, janeiro 22, 2010

O MISTERIOSO ADMIRADOR DE POE


ANNABEL LEE

It was many and many a year ago,
In a kingdom by the sea,
That a maiden there lived whom you may know
By the name of ANNABEL LEE;
And this maiden she lived with no other thought
Than to love and be loved by me.

I was a child and she was a child,
In this kingdom by the sea;
But we loved with a love that was more than love-
I and my Annabel Lee;
With a love that the winged seraphs of heaven
Coveted her and me.

And this was the reason that, long ago,
In this kingdom by the sea,
A wind blew out of a cloud, chilling
My beautiful Annabel Lee;
So that her highborn kinsman came
And bore her away from me,
To shut her up in a sepulchre
In this kingdom by the sea.

The angels, not half so happy in heaven,
Went envying her and me-
Yes!- that was the reason (as all men know,
In this kingdom by the sea)
That the wind came out of the cloud by night,
Chilling and killing my Annabel Lee.

But our love it was stronger by far than the love
Of those who were older than we-
Of many far wiser than we-
And neither the angels in heaven above,
Nor the demons down under the sea,
Can ever dissever my soul from the soul
Of the beautiful Annabel Lee.

For the moon never beams without bringing me dreams
Of the beautiful Annabel Lee;
And the stars never rise but I feel the bright eyes
Of the beautiful Annabel Lee;
And so, all the night-tide, I lie down by the side
Of my darling- my darling- my life and my bride,
In the sepulchre there by the sea,
In her tomb by the sounding sea.

Edgar Allan Poe 


O poeta nasceu a 19 de Janeiro de 1809 e morreu em 1849. DE acordo com o jornal  The Guardian, na passada 4ª feira foi a primeira vez em 60 anos que um seu fiel e constante admirador não apareceu para depositar sobre o seu túmulo 3 rosas e meia garrafa de conhaque, como sempre fez. Terá morrido? Estará doente? Ninguém sabe. 
A poesia de  E. A. Poe continua, no entanto, connosco. Happy Birthday Mr. Poe!

sábado, agosto 01, 2009

Poema de um poeta-filósofo (lido hoje no Washington Post)

The Solipsist
por Troy Jollimore

Don't be misled:
that sea-song you hear
when the shell's at your ear?
It's all in your head.
That primordial tide—
the slurp and salt-slosh
of the brain's briny wash—
is on the inside.
Truth be told, the whole place,
everything that the eye
can take in, to the sky
and beyond into space,
lives inside of your skull.
When you set your sad head
down on Procrustes' bed,
you lay down the whole
universe. You recline
on the pillow: the cosmos
grows dim. The soft ghost
in the squishy machine,
which the world is, retires.
Someday it will expire.
Then all will go silent
and dark. For the moment,
however, the black-
ness is just temporary.
The planet you carry
will shortly swing back
from the far nether regions.
And life will continue—
but only within you.
Which raises a question
that comes up again and again,
as to why
God would make ear and eye
to face outward, not in?

Fonte: Poetry (January 2008).