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domingo, outubro 01, 2017

Curar a Ansiedade


O que é a ansiedade?

O que diz sobre nós e sobre as nossas circunstâncias?

Porque são umas pessoas mais ansiosas que outras?

Quais as "ferramentas" internas que desenvolvemos (ou que ficam a faltar) ao longo do desenvolvimento da personalidade?

Como a psicoterapia psicanalítica pode tratar a ansiedade?

Quais as diferentes expressões e tipos da ansiedade?

São sem dúvida uma perguntas importantes, e primeiro que tudo é importante entender o que é a ansiedade.

Ainda que o diagnóstico de perturbação de personalidade ansiosa, obsessiva, compulsiva, de ansiedade generalizada ou de ataque de pânico remetam para a representação da ansiedade como uma doença, a mesma não é necessariamente uma doença. Pelo menos no sentido em que padecemos de algo que de alguma forma, com alguma forma de meditação ou técnicas de relaxamento, poderá ir embora de vez. Todavia, muitos profissionais de saúde consideram a ansiedade como doença, procurando "trata-la", ou controlá-la, com algum grau de sucesso relativo. Porém, controlar a ansiedade e livrar-nos dela são realidades muitíssimo diferentes,

A ansiedade e a depressão estão sempre presentes em algum grau em todo o espetro das mais variadas perturbações psicológicas e sofrimento emocional. A própria depressão amiúde alberga núcleos ansiosos e a ansiedade também está de várias formas ligada com a depressão e com o deprimir. Como há também ansiedade e depressão em vários níveis de expressão (uns superiores, outros mais desenvolvimentalmente inferiores). Algumas manifestações de ansiedade ou depressão inclusivé pouco se relacionam com o que commumente designamos por ansiedade ou depressão. Também é frequente que um mesmo conteúdo interno coexista enquanto uma vivência mista e/ou alternada de depressão e ansiedade, sendo o desejável que a evolução seja sempre para um "deprimir" - um suportar internamente do conteúdo ou da angústia devidamente nomeada a partir de um sentimento interno de não-ameaça ou aceitação, de um estado interno relativamente livre de ansiedade ainda que por vezes emocionalmente custoso. Ou seja, numa perspetiva desenvolvimental, e/ou daquilo que acontece durante uma psicoterapia, é frequente e desejável que os núcleos internos ansiosos se transformem gradualmente e antes de mais em algo pensável, muitas vezes com o correlato emocional de um estado de abatimento, de um largar do controlo, de uma aceitação, ou de uma certa resignação emocional face por exemplo a circunstâncias penosas, limitadoras ou por vezes incontornáveis da vida da pessoa - uma espécie de "luto" ou "deprimir saudável". Nesta passagem está aberta a porta à elaboração psíquica progressiva, que por sua vez permite o crescimento pessoal e da personalidade, e mesmo, consoante o caso, o reajustamento das circunstâncias de vida.

Poder começar a considerar a ansiedade enquanto uma "informação-alarme" relacionada sobre nós mesmos e a relação connosco mesmos, com os demais e com o mundo, é como que um primeiríssimo passo no sentido do início da jornada da atribuição de sentidos claros e concretos à experiência interna de ansiedade - ligar a ansiedade, sobretudo a ansiedade difusa, a ansiedade ligada ao desconforto corporal, a ansiedade de pânico ou mesmo aquela que conduz às compulsões e obsessões (ao controlo da ansiedade deslocado para algo fora ou dentro de nós), a representações internas (pensamentos, memórias, desejos, angústias, medos, etc.). Estas por sua vez passam então a serem passíveis de serem gradualmente elaboradas e "arrumadas" internamente.

A ansiedade acima de tudo transforma-se, desde as vivências de desconforto no corpo ou comportamentos impulsivos, passando pela experiência interna de "tensões ou mal estar difuso", ou "coisas sem nome", até representações conscientes ("coisas com nome"), que por tal, podem então começar a ser "digeridas" e o pensamento organizado. Cada etapa do percurso implica um nível mais sofisticado de elaboração de conteúdos internos, e logo, menor ansiedade.

Ao contemplar um bebé que chora ansioso porque está com fome, ou com frio, ou desconfortável por causa da fralda, ou com cólicas, ou sobre estimulado pelo ambiente, a medicação ou técnicas de relaxamento não são propriamente as primeiras ideias que surgem no nosso imaginário enquanto a resposta àquele sofrimento. "Onde está a mãe?" tende a ser o primeiro pensamento que nos surge. Ou seja, a resposta aos estados de ansiedade de um bebé são os cuidados maternos. São o complemento natural da ansiedade e que a contém e transforma, conduzindo à tranquilização do bebé, cujas necessidades foram atendidas e suas angústias aplacadas.

Porém... Nem todos os cuidados maternos conseguem aplacar as ansiedades de um bebé. Há de facto uma configuração muito específica para que estes cuidados exerçam uma verdadeira contenção das angústias do bebé. São os cuidados suficientemente bons, que requerem a presença de duas características fundamentais na personalidade da mãe ou do cuidador:

1. Um estado de serenidade e disponibilidade emocional para o bebé
2. Uma capacidade refinada de sintonia-empática de modo a intuir as necessidades do bebé


De alguma forma estas duas condições são a base da função continente, que contém a ansiedade do bebé e a transforma em cuidados. Esta relação de contenção, cujo protótipo é a relação mãe-bebé, continua a ser oferecida à criança ao longo da infância e adolescência, Sentir-nos contidos é o que acontece quando nos sentimos verdadeiramente compreendidos por alguém em algo que é verdadeiramente importante para nós, ou que ninguém parece conseguir compreender em nós ou sobre nós. Trata-se de um sentimento de apaziguamento interno, mais subtil ou menos subtil, de retorno a um estado de calmaria acompanhado muitas vezes por uma (re)organização de ideias.

Quanto mais esta função continente for oferecida a uma criança ao longo da vida, devidamente enquadrada numa relação de confiança e cumplicidade, maior o desenvolvimento das "ferramentas internas" para lidar com a ansiedade como a maior tolerância à frustração, maior capacidade de auto-contenção (aumento do volume do "saco interior" - que ao transbordar resulta frequentemente na formação de sintomas), maior a serenidade de caráter e imunidade contra a experiência da ansiedade, e maior esperança, confiança e prazer nas relações interpessoais enquanto "portos de abrigo" e encontros organizadores das experiências de vida e emoções mais difíceis.

Tomando mais uma vez a relação de contenção mãe-bebé enquanto protótipo e metáfora de um tipo de relação intra psíquica e interpessoal sanígena e importante para a formação da personalidade madura, há que considerar que existem de facto obstáculos a essa mesma relação que podem surgir desde muito cedo. A ansiedade ou irritabilidade persistentes da própria mãe ligadas por exemplo a uma fraca capacidade continente, a incapacidade de relaxar, defesas rígidas contra a própria ansiedade e necessidade de controlo de tudo e todos, a indiferença face às solicitações da criança, as falhas empáticas resultantes... Que fazem com que muitas vezes a criança desista de conseguir que o meio vá de encontro àquilo que ela precisa, podendo desenvolver mesmo uma personalidade de adaptação superficial às expetativas dos demais que pode em maior ou menor medida abafar a personalidade verdadeira e espontânea. Existem famílias nas quais a criança frequentemente não é considerada na sua individualidade, acabando por ter de se resignar às expetativas. Ou então, por exemplo, procurar expor quaisquer necessidades, desejos, angústias ou outros conteúdos é vivido como que um "falar para uma parede". Falha a função continente parental, falha a contenção, proliferam a ansiedade, os sintomas e a psicopatologia (depressão, ansiedade, etc.), muitas vezes soterrada por um "falso eu" adaptado superficialmente ás exigências da realidade exterior e das responsabilidades, com pouca margem para a espontaneidade e prazer de viver relativamente ausente.

Perante uma problema de ansiedade, um psicoterapeuta deverá procurar aferir ao longo das primeiras consultas de avaliação vários aspetos do desenvolvimento psicológico, como a capacidade continente de que aquela pessoa dispõe para si mesma; a qualidade dos cuidados e da contenção recebida pelas principais figuras de vinculação ao longo da vida; bem como procurar ligar-se de forma sintónica, empática e intuitiva à natureza e complexidade dos conteúdos não pensados e/ou não pensáveis que aquela pessoa possa carregar consigo.

De um modo geral, não adaptado às circunstâncias específicas de cada pessoa, o percurso de tratamento da ansiedade pode englobar a cada sessão o foco nos seguintes aspetos:

Construção contínua de uma relação de confiança como via privilegiada que permite progressivamente uma verdadeira entrega e através da mesma, a possibilidade de descansar verdadeiramente;

Contenção;

Ligação dos conteúdos ou tensões internas (ou "coisas") sem nome ou sem pensamento, a representações, linguagem e pensamento;

Elaboração progressíva;

Expansão da capacidade de pensar e desenvolvimento de outras "ferramentas" internas de gestão da ansiedade;

Ponderação sobre a mudança de circunstâncias externas indutoras de ansiedade ou que a mantêm.


Os problemas de ansiedade podem surgir em níveis diferentes de expressão, por exemplo:

- Problemas ou desconforto ao nível do corpo;
- Via do "agir", por exemplo o consumo de alcóol, drogas, condução a alta velocidade, agressões a outras pessoas, etc.
- Ataques de pânico e ansiedade generalizada
- Sentimento de "algo" internamente persecutório, sem representação mental, porém acompanhado de mal estar ou desconforto difuso

Podem surgir em níveis mais representáveis na mente, ainda que de forma ainda primária e/ou menos elaborada, por exemplo;

- Pesadelos
- Percepções de "energias negativas", sentimentos ou percepções invulgares de "sujidade" (interna ou projetada para fora)

Podem surgir em níveis mistos, ou alternados.

As ansiedades são também vulgarmente sinalizadas pelas defesas psíquicas destinadas a "lidar" com aquilo que a própria pessoa não consegue lidar dentro dela, acabando por gerar outros problemas ou sintomas - compulsões, obsessões, fobias, percepções distorcidas e/ou ameaçadoras da realidade exterior e dos outros, etc..

Os conteúdos internos - angústias, desejos, fantasias, ideias, sentimentos, etc. - acabarão por tornar-se claramente representáveis ao longo de uma psicoterapia, sendo possível a elaboração a vários níveis, como por exemplo:

- Identificação clara de sentimentos (em vez de "energias negativas": medo, inveja, raiva, ódio, atração, vergonha, humilhação, por exemplo
- Elaboração dos sentimentos mais difíceis, contextualizando-os e articulando-os sob várias perspetivas
- Identificação de padrões gerais de funcionamento da personalidade mediante elaboração de padrões de sentir e reagir

Há também que considerar a natureza da experiência da ansiedade e relação com o estado ou desenvolvimento do aparelho mental... Ansiedade generalizada e difusa, ansiedade social, ansiedade ligada à culpabilidade, ansiedade persecutória, ansiedade de aniquilamento.., são ansiedades essencialmente diferentes, de gravidades diferentes e que requerem portanto cuidados diferentes.

domingo, fevereiro 21, 2016

Experiências Adversas na Infância - Calcule o seu índice ACE


Deixamos aqui mais um artigo sobre as Experiências Adversas de Infância, enquanto síntese,  oferecendo-lhe agora, no final do artigo, a possibilidade de cálculo do seu índice ACE - Adverse Childhood Experiences.

O estudo sobre as Experiências Adversas de Infância é uma investigação megalómana conduzida no âmbito da avaliação da relação entre, por um lado, maus tratos na infância e, por outro lado, saúde e qualidade de vida ao longo da vida.

A agressão e negligência física ou emocional precoce muda literalmente quem nós somos. Porém, a psicoterapia pode ajudar.

Se alguma vez se perguntou porque se têm debatido tanto durante tanto tempo com problemas crónicos de saúde física e emocional que simplesmente não desaparecem, sentindo-se como se estivesse a nadar contra uma corrente invisível que nunca cessa, então esta área da pesquisa científica pode oferecer esperança, respostas e perspetivas de cura.

Este estudo epidemiológico em larga escala visou sondar as histórias de 17.000 crianças e adolescentes, comparando as suas experiências de infância com os seus registos de saúde mais tarde na vida adulta. Os resultados foram chocantes: Quase dois terços dos indivíduos tinham sofrido uma ou mais experiências adversas de infância. Estas Experiências Adversas de Infância - ACE - compreendem situações crónicas, imprevisíveis e indutoras de stress que algumas crianças enfrentam. Estas formas de trauma emocional ultrapassam os desafios típicos do crescimento.
 
Este estudo (replicado em vários paises), demonstrou que o índice de ACE de cada individuo predizia com precisão surpreendente a quantidade de cuidados médicos que essa pessoa iria necessitar enquanto adulta.

  • Pessoas com um índice ACE de 4 ou mais apresentavam duas vezes maior probabilidade de diagnóstico de cancro em comparação com as pessoas que não apresentavam historial de ACE.

  • Para cada ACE uma mulher apresentava um risco acrescido de 20% relativo à necessidade de hospitalização devido a doença autoimune.

  • Alguém com um historial de 4 ACE apresentava 460% maior propensão a sofrer de depressão que alguém sem historial de ACE.

  • Um índice de 6 ou mais ACE demonstrou reduzir a vida da pessoa por quase 20 anos.

Este estudo demonstra que a vivência de stress tóxico imprevisível e crónico na infância nos predispõe a uma constelação de condições crónicas na adultícia.

Cálculo do índice ACE

Aconselhamos uma reflexão cuidada e ponderada antes de responder a cada item (por exemplo, responder ao questionario quando estiver sozinho(a), refletindo 2-3 minutos em cada ponto ou subponto).

Antes dos seus 18 anos:

1. Algum dos pais ou outro adulto em casa frequentemente ou muito frequentemente

  • A(o) ofendia, a(o) insultava, a(o) menosprezava, a(o) humilhava?
          ou
  • Agiam de tal forma que a(o) faziam recear ser fisicamente agredida(o)?

2. Algum dos pais ou outro adulto em casa frequentemente ou muito frequentemente

  • A(o) empurrava, agarrava, esbofeteava ou atirava objetos contra si?
          ou
  • Alguma vez lhe bateu de tal forma que gerou marcas ou danos físicos?

3. Algum adulto ou pessoa pelo menos 5 anos mais velha alguma vez

  • A(o) tocou ou acariciou ou a(o) levou a tocar o corpo deles de forma sexual
          ou
  • Tentou ter ou teve relações sexuais orais, anais ou vaginais consigo?

4. Sentia frequentemente ou muito frequentemente que

  • Ninguém na sua família a(o) amava ou pensava que você era importante ou especial?
          ou
  • Os membros da sua família não se preocupavam pelo bem estar de cada um, se sentiam próximos uns dos outros, ou se apoiavam uns aos outros?

5. Sentia frequentemente ou muito frequentemente que

  • Não tinha o suficiente para comer, tinha de usar roupas sujas, e não tinha ninguém que (a)o protegesse?
          ou
  • Os seus pais estavam demasiado embriagados ou sobre o efeito de drogas para cuidar de si ou leva-lo ao médico caso precisasse?

6. Alguma vez os seus pais se separaram ou divorciaram?

7. A sua mãe ou madrasta

  • Era frequentemente ou muito frequentemente empurrada, agarrada, esbofeteada, ou lhe atiravam objetos contra ela?
          ou
  • Era algumas vezes, frequentemente ou muito frequentemente pontapeada, mordida, batida com murros, ou atingida com objetos pesados?

8. Viveu com alguém que sofressem de problemas de bebida ou alcoolismo, ou que usasse drogas ilícitas?

9. Algum dos membros de família sofria de depressão ou perturbações psicológicas, ou algum dos membros de família teve tentativas de suicídio?

10. Algum dos membros da família foi preso?

A Soma das suas respostas positivas é o seu índice de Experiências Adversas de Infância (ACE).
 
Fonte ACE Study
CDC Violence Prevention

segunda-feira, maio 04, 2015

||Perturbações de Personalidade|| - Personalidade Masoquista (Auto-Derrotista)


As pessoas que sofrem de uma perturbação masoquista de personalidade vivem o sofrimento de forma repetitiva nas suas vidas e nas suas relações. Para quem está de fora elas aparentam sujeitar-se sistematicamente a perigos e a maus tratos.

Clinicamente o masoquismo significa que para determinada pessoa certas experiências fundamentais, como a autoestima e a proximidade relacional, tornaram-se intrinsecamente associadas com um sofrimento necessário. Alguns autores e técnicos de saúde mental preferem o termo "auto-derrotismo", que retira a conotação sexual do termo (nem todas as pessoas com personalidade masoquista adotam uma sexualidade masoquista) e associa-se menos com a "culpabilização" das vítimas de abuso pelos seus maus tratos.

Uma das características comuns dos pacientes auto-derrotistas é o facto de que, ainda que o quadro clínico seja indicador de depressão, as intervenções psicológicas e farmacológicas que tipicamente aliviam a depressão tendem a ser ineficazes. Muitos pacientes auto-derrotistas queixam-se repetidamente junto dos profissionais de saúde, algumas vezes com um sorriso subtil, de que as suas mais recentes tentativas de ajuda fracassaram. As psicologias masoquistas e as psicologias depressivas partilham ainda algumas dinâmicas centrais, como a sensibilidade à rejeição e à perda, sentimentos de inferioridade, culpa inconsciente e inibição da zanga consciente contra os demais. Muitas vezes ambos os problemas coexistem numa mesma personalidade.

As personalidades masoquistas tendem a causar um impacto nos outros enquanto pessoas atormentadas, ao passo que as personalidades depressivas impactam mais pela tristeza intensa que carregam e pela autocrítica. Quando iniciam uma psicoterapia as pessoas auto-derrotistas procuram uma resposta de pena ou um sentido de compaixão por parte do terapeuta e podem parecer mais investidas em demonstrar a magnitude do que os aflige do que em resolver os seus problemas. É uma atitude outrora designada por "masoquismo moral", que remete para a culpa inconsciente e para um transparecer subtil de um sentido de superioridade moral através da dor ou pela aparente submissão altruísta a outros. Enquadram-se neste grupo algumas pessoas que agem de forma autodestrutiva após cada vitória ou sucesso.

Há uma outra versão da estrutura de personalidade auto-derrotista, que se situa num nível de organização de personalidade mais grave e trata de um masoquismo mais relacional. O comportamento sugere a presença de uma crença inconsciente de que a vinculação requer sofrimento, ou seja, que nas relações a outra parte apenas está verdadeiramente presente e disponível quando o próprio está em sofrimento. São exemplos deste funcionamento, por exemplo, alguns pacientes que se auto-mutilam, abusam de substâncias ou se envolvem sexualmente com estranhos quando o terapeuta está de férias, uma forma de vingança (não necessariamente consciente) do terapeuta ausente.

Uma tarefa das tarefas da psicoterapia com pacientes caracterologicamente masoquistas é ajudar, ou mesmo eventualmente ir confrontando (com tato e sensibilidade) a própria pessoa com as suas contribuições para os problemas que surgem na sua vida, e, ao mesmo tempo, conter a ansiedade e a zanga daí decorrentes.

Preocupação/tensão central: Sofrimento/perder uma relação ou a autoestima
Afetos centrais: Tristeza, zanga, culpa
Crença patogénica característica sobre si próprio(a): Manifestando sofrimento eu posso demonstrar a minha superioridade moral e/ou manter os meus vínculos
Crença patogénica sobre os outros: As pessoas apenas prestam atenção quando alguém está com problemas
Subtipos:

Masoquista Moral
A autoestima depende do sofrimento; a culpa inconsciente impede experiências de satisfação e sucesso.

Masoquista Relacional
Há uma crença inconsciente de que os relacionamentos estão dependentes do sofrimento ou da vitimização pessoais. A vida fora da relação atual, por mais abusiva que seja, pode parecer inimaginável
 Fonte: PDM - Psychodynamic Diagnostic Manual 


segunda-feira, abril 27, 2015

||Perturbações de Personalidade|| - Personalidade Ansiosa



A ansiedade é característica transversal da esmagadora maioria dos problemas psicológicos. Perto da fronteira com a psicose, as pessoas com psicologias movidas pela ansiedade tornam-se tão inundadas pelo medo que o funcionamento defensivo em torno da negação e da projeção torna-se central. Nestes casos o diagnóstico de perturbação paranóide de personalidade poderá ser mais adequado.

As pessoas que sofrem de uma perturbação ansiosa de personalidade estão cronicamente conscientes da sua ansiedade já que os esforços defensivos contra essa ansiedade falham na função de manter a apreensividade fora da consciência. Contrariamente ao que acontece nas fobias, onde a ansiedade se liga a determinados objetos ou situações, as pessoas caracterologicamente ansiosas vivem uma ansiedade global e difusa, frequentemente não sabendo o que as assusta.

A ansiedade-sinal (sensações afetivas que nos dizem que certas situações foram perigosas para nós no passado), a ansiedade moral (medo de violação dos próprios valores), a ansiedade de separação (medo da perda das figuras principais de vinculação) e a ansiedade de aniquilação (terror da fragmentação ou da perda do sentido do Eu) todas elas podem ser discerníveis em pessoas que sofram de uma perturbação ansiosa de personalidade. Regra geral, quanto mais grave o nível de organização da pessoa ansiosa, mais provável que a ansiedade de aniquilação domine o quadro clínico.

A fonte da ansiedade caracterológica relaciona-se com a desregulação afetiva e o não desenvolvimento de estratégias internas ou defesas destinados a mitigar os medos normais do desenvolvimento. As pessoas com ansiedade caracterológica referem tipicamente cuidados ansiosos por parte de um cuidador de infância que, devido à sua própria ansiedade, não conseguia acalma-las adequadamente ou transmitir um sentimento de segurança ou apoiar um sentido de controlo/mestria interior das próprias emoções. Aspetos que são posteriormente alvos principais do trabalho em psicoterapia.

Preocupação/tensão central: Segurança/perigo
Afetos centrais: Medo
Crença patogénica característica sobre si próprio(a): Estou em perigo constante por forças desconhecidas
Crença patogénica sobre os outros: Os outros são fontes ou de proteção ou e perigo

 Fonte: PDM - Psychodynamic Diagnostic Manual