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sexta-feira, dezembro 13, 2013

Psicoterapia Psicanalítica: A cura na relação, pela relação


“O que é uma relação psicoterapêutica?”, “Como saberei se a tenho ou já a tive na minha vida?”, “Porque preciso dela?”. São estas as questões que organizam a nossa presente comunicação.

Relações há muitas. Relações mais íntimas ou mais superficiais, mais gratificantes ou mais frustrantes, mais sanígenas ou mais patogénicas, mais livres ou mais inescapáveis.

Aquela que verdadeiramente nos interessa aqui é a relação sanígena, que alberga em si verdadeiro potencial psicoterapêutico. É a relação com capacidade reparadora, desbloqueadora e promotora do desenvolvimento (inter-)pessoal e da criatividade. Relação   suficientemente boa, vivida plena e atempadamente para alguns, mas não para outros. Para alguns a realidade é a de falha desta relação, a de uma relação desajustada, insuficientemente vivida e precocemente perdida. Ou mesmo, o desconhecimento total desta relação.

Muitos de nós enquanto adolescentes e adultos continuamos (consciente ou inconscientemente) em busca desta relação, de forma mais intermitente ou mais incessante, na fantasia e na prática, de forma mais concreta ou mais abstrata. É frequente confundi-la, mistura-la com, ou procura-la em, outros tipos de relações,  as quais com alguma frequência se transformam sistematicamente em relações insatisfatórias, conflituais e inscritas num ciclo repetitivo de más relações que mais parecem ilustrar a crueldade do destino ou o tormento de um mau karma.

Compreensão e apoio emocional. Estes são dois dos mais vitais “nutrientes emocionais” que enquanto seres humanos procuramos nas nossas relações – dado que em certos casos psicopatológicos tanto a procura daquilo que o outro nos pode dar como a vivencia da dependência na relação com o outro são aspetos fortemente repudiados, de tal forma aterradores que fortíssimas resistências psicológicas (presentes por vezes durante toda uma vida) se colocam ao mero reconhecimento desta necessidade de depender do outro, de se poder ser e desejar ser cuidado.

A compreensão e apoio emocional, inscritos numa relação de verdadeira receptividade, envolvimento e preocupação empática, isenta de critica ou juízos de valor – que pouco ou nada contribuem para o desenvolvimento da personalidade – permite a experiência profundamente sanígena de nos sentirmos compreendidos no nosso sofrimento e em todos os subsequentes desenvolvimentos. Por sua vez, a experiência da compreensão em profundidade da nossa complexidade e contradição moral, comportamental e emocional permite-nos o acesso à serenidade e à maturidade psicológica, bem como à capacidade de compreensão em profundidade do outro, e logo, à capacidade de estabelecermos relações mais profundas, genuínas e plenas.

Em condições ótimas a relação aqui descrita é apanágio das interações entre uma criança e os seus cuidadores principais durante a infância. Ela ajuda a organizar toda a experiência emocional do bebé e da criança, o que irá mais tarde influenciar a atitude do adolescente ou do adulto para consigo mesmo, para com o mundo e para com as relações, bem como o seu comportamento e a sua capacidade de pensar.

O apoio nesta organização emocional é bastante importante aquando das etapas maturativas da infância e dos conflitos emocionais que lhes subjazem. Consoante a maior ou menor elaboração destes problemas maturacionais em cada um de nós enquanto adultos, o significado inconsciente das ansiedades e dos problemas emocionais que nos afligem varia bastante de pessoa para pessoa, o que significa que a experiência desses stressores é diferente de pessoa para pessoa.

É também por este motivo que muitas vezes o conselho de um amigo ou amiga, ou mesmo de um cônjuge, não surtem esse efeito psicoterapêutico pois frequentemente, ainda que bem intencionados, esses conselhos não estão verdadeiramente dirigidos nem consideram a forma peculiar da outra pessoa sentir e organizar a sua experiência emocional. Ainda que os nossos amigos sejam sagrados, por vezes é preciso ir e procurar mais além.

É ao fim ao cabo esta a relação e a transformação oferecida pela psicoterapia psicanalítica. Mais que a cura pela palavra, a psicoterapia psicanalítica é também a cura pela relação.

Diogo Gonçalves
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta