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segunda-feira, maio 25, 2015

Grupo Terapêutico - Vença a TIMIDEZ!


O que é a Timidez?

A timidez é um conceito difícil de definir. É uma condição complexa que produz toda uma serie de efeitos desde um ligeiro constrangimento a um receio absurdo.

A pessoa tímida sente relutância em enfrentar ou lidar com pessoas ou coisas específicas, mostra-se pouco à vontade na conversação e na ação, tem receio em afirmar-se e é facilmente perturbável.

A pessoa tímida pode ser retraída e reservada por falta de confiança em si mesmo. A pessoa tímida é aquela que se sente constrangida na presença de outros.

Para algumas pessoas a timidez é algo que afeta muito o seu dia-a-dia desde há muitos anos. A timidez pode levar à solidão, principalmente quando a pessoa se sente tímida todo o tempo, em todas as situações e com praticamente todas as pessoas.

A timidez é um problema que pode criar tantos problemas quanto uma deficiência física grave, e as suas consequencias podem ser extremamente prejudiciais:

- a timidez faz com que seja difícil conhecer pessoas novas, fazer amigos, ou viver experiencias potencialmente boas;

- impede-nos de defender os nossos direitos e expressar opiniões e valores de forma assertiva;

- limita a possibilidade dos outros avaliarem positivamente as nossas capacidades;

- aumenta o constrangimento e uma preocupação excessiva pelas próprias reações;

- faz com que seja difícil pensar com clareza e comunicar com eficácia;

- é frequentemente acompanhada de sentimentos negativos como a depressão, a ansiedade e a solidão

Ser tímido é ter medo das pessoas, especialmente daquelas que por qualquer motivo constituem uma ameaça no plano emocional: os estranhos pelo fato de serem uma novidade e um fator de incerteza, as autoridades por exercerem poder, os membros do outro sexo por representarem a possibilidade de encontros íntimos.

Apesar das suas consequências negativas e do seu grau de intensidade, é possível vencer a timidez.

O que posso esperar deste programa?

No seguimento do seu contacto será integrado numa turma do programa VENCER A TIMIDEZ.

Na 1ª sessão irá conhecer outras pessoas que sofrem com a mesma dificuldade que você, sofrem de TIMIDEZ. É natural que não se sinta à vontade e que lhe possa ser difícil dar o primeiro passo para se inscrever no grupo e, depois de inscrito, poderá ser-lhe difícil ir à primeira sessão.

Pode sentir que irá ser complicado para si ir ao primeiro encontro, mas vai ver que será um esforço que irá compensá-lo.

Pode conhecer outras pessoas que sofrem do mesmo problema e que lutam para o conseguir ultrapassar, tal como você faz, pode trazer, por si só, um certo alívio. Partilhar, dentro do que lhe for possível, a sua experiência com outras pessoas é já em si uma experiência de treino de competências.

Na primeira sessão poderá recolher-se numa atitude mais passiva em que lhe será solicitado apenas que responda a um questionário escrito e que participe, passivamente, em exercícios de relaxamento com base em técnicas de hipnose clinica. Para além de poder assistir a uma palestra sobre a psicologia da timidez.

Nas sessões seguintes ser-lhe-á solicitado progressivamente uma maior participação tendo sempre em linha de conta os seus constrangimentos e dificuldades. Progressivamente irá adquirindo novas competências relacionais, aprender a monitorizar os seus níveis de ansiedade e a suavizá-los com diversas técnicas, ganhando naturalmente mais confiança em si próprio.

Este programa terá início com um número mínimo e máximo de participantes. Terá a duração de 12 sessões semanais.

O programa “VENÇA A TIMIDEZ” irá providenciar um tempo e um espaço onde poderá

       (1) Ganhar uma compreensão da psicologia da TIMIDEZ,

       (2) aprender estratégias práticas para gerir e minimizar os efeitos da TIMIDEZ,

       (3) praticar essas técnicas dentro e fora do grupo terapêutico,

       (4) aprender a manter os ganhos que conquistou durante a terapia de grupo.


Abordagens Terapêuticas Utilizadas

PSICOEDUCAÇÃO
HIPNOSE CLÍNICA
ESTIMULAÇÃO BILATERAL
EFT
 
Valor: 30€/ Sessão
Local de realização do Grupo: Lisboa | Rua da Prata, 250 - 3º Esq.
Horário: Todas as quartas das 18h às 19h30
Terapeuta: Dra Ana Almeida
Contactos: 21 314 53 09 | 91 831 02 08; www.psicronos.pt | geral@psicronos.pt


quarta-feira, março 04, 2015

Psicoterapia Breve vs. Psicoterapia Longa: Considerações


As terapias breves são muito eficaz na resolução de diversos problemas ou sintomas, dependendo da psicoterapia em questão. É também verdade que para determinados problemas - nomeadamente perturbações de trauma e dissociação - existem tratamentos de rapidez dramática como o EMDR. Há no entanto problemas mais complexos que não são passíveis de serem resolvidos com meras sessões de psicoterapia, pois requerem um duro trabalho de reestruturação de personalidade em profundidade.

As psicoterapias breves em geral visam o alívio rápido de sintomas - aqueles que cedem à intervenção breve - e não um trabalho profundo e abrangente, que lide não só com aquilo de que a pessoa se queixa mas com tudo o que existe em torno de tal e aquilo que vai surgindo à medida que se trabalha a queixa/pedido inicial, e assim sucessivamente. As psicoterapias breves, no geral pouco conseguem fazer face às perturbações de personalidade, por exemplo, porque não se trata daquilo que a pessoa "têm", mas daquilo que a pessoa "é". São padrões muito próprios e automáticos de sentir, de pensar, de agir, de perceber o mundo em redor, de perceber os outros e as relações, pdrões únicos de acomodação às exigências da realidade, de lidar com o stress, de lidar com as perdas, de lidar com as ameaças à autoestima. São padrões de funcionamento e de "ser" que estão enraizados no íntimo da pessoa tal como ela é.

Mais de 100 anos de investigação clínica têm mostrado sistematicamente que a maturidade e a capacidade de vivermos uma vida satisfatória está ligada ao desenvolvimento psicológico (maturação) durante a infância (sobretudo), base da nossa personalidade. Em cada fase específica do desenvolvimento psicológico desenvolvem-se (ou não) certas capacidades que são fundamentais para a vida adulta. Por vezes o trabalho clínico implica o retomar do desenvolvimento psicológico que foi interrompido, ou que não se conseguiu completar satisfatoriamente em determinadas áreas ao longo do crescimento. Só um psicólogo com conhecimentos aprofundados nos modelos da psicologia do desenvolvimento (e quantos mais conhecer, melhor) consegue fazer essa avaliação, bem como a avaliação das capacidades que a pessoa foi conseguindo desenvolver ao longo da vida, e aquelas cuja falta ou escacez estão na base e por de trás dos problemas que trazem a pessoa à consulta. Por vezes este apuramento clínico ou avaliação rigorosa da psicologia em profundidade de uma dada pessoa requer várias consultas de avaliação e acompanhamento. Sendo inerente e parte da natureza das consultas de psicologia clínica e psicoterapia que ao longo do processo, quanto mais se aprofunda, mais se desvenda.

Trabalhar áreas como a identidade, orientação sexual, autonomia, dependências, instabilidade e conflitos persistentes nas relações amorosas, problemas complexos na vida de um casal, depressões profundas, quadros psicóticos, narcísicos, perversões sexuais ou morais, capacidade de iniciativa, produtividade no trabalho, criatividade, ou perturbações de personalidade (esquizoide, narcísica, psicopata, paranoide, borderline, dependente, masoquista, sado-masoquista, histérica, somática, depressiva-anaclítica, depressiva-introjetiva, maníaca, bipolar, perturbações mistas, etc.) não são trabalhos rápidos, nem simples.

Alguém que foi cuidado por um progenitor controlador durante a infância e adolescência, que criava lutas de poder em torno da alimentação, sexualidade ou em torno da obediência geral, poderá mais tarde ser alguém particularmente preocupado com temas de controlo e medo da perda de controlo. Poderá ter uma psicologia muito rígida e autopunitiva, podendo tornar-se alguém também muito severo com os demais. Poderá desenvolver tendência forte para a racionalização (ou um caráter excessivamente "prático", centrado no fazer e no desfazer), com pouco contacto com as próprias emoções e pouca tolerância às suas partes da personalidade mais imaturas. Ainda que aqui possamos falar de uma perturbação obsessiva, compulsiva ou obsessivo-compulsiva de personalidade (diferente de sintomas obsessivos, compulsivos ou obsessivo-compulsivos), isto é o que a pessoa é, e não o que a pessoa têm.

O trabalho psicoterapêutico nestes casos assenta na própria personalidade, nas dinâmicas familiares do passado (agora internalizadas), na identidade e identificações, no desenvolvimento psicológico da pessoa (e a eventual necessidade de retoma de certas etapas do desenvolvimento durante a psicoterapia), etc.. É também um trabalho de expansão da mente, de ajudar a pessoa a aumentar o conhecimento sobre si própria de modo a que consiga ter em conta quais os seus pontos fortes e suas limitações, e assim consiga melhor adaptar-se ás exigências da realidade e a conseguir a autorealização. O objetivo é reduzir a dificuldade em viver e na relação com os demais, reduzir a angústia existencial e os obstáculos na vida (transformando os obstáculos internos e aprendendo a melhor contornar e lidar com os obstáculos externos, o que é muitas vezes consequência da transformação interna). Isto naturalmente não é algo que se consiga fazer em meia dúzia de sessões. È um trabalho duro, que implica compromisso, todo um encadeamento de mudanças subtís na personalidade e respetiva consolidação, mas que ao longo do tempo aproximam a pessoa mais e mais daquilo que verdadeiramente é (deseja ser ou sente que é mas não o consegue atingir sozinha).

Mas, claro, há mesmo quem só queira resolver um ou outro problema isolado e nesses casos, dependendo sempre do problema e do grau de enraizamento do mesmo, é possível fazer uma psicoterapia mais breve e focal, ignorando outras áreas da personalidade.

quarta-feira, abril 16, 2014

Provas científicas e validade do EMDR


Muitas pessoas já ouviram falar do EMDR como método ou abordagem integrativa psicoterapêutica que promete resultados, ou pelo menos uma maior eficácia, na ultrapassagem de uma variedade de situações traumáticas. Nestas se incluem as experiências relacionadas com a guerra, as situações de abuso sexual e/ou físico ou de negligência na infância, desastres naturais, assalto ou ataque, traumas cirúrgicos e de diagnóstico de doenças crónicas, acidentes de viação e de trabalho. Dos traumas grandes aos traumas pequenos, ou vice-versa, abrangendo as situações cuja perturbadora vivência deixou na nossa mente/corpo uma espécie de caixa de ressonância (aglomerado de memórias, imagens, emoções e sensações) muito sensível a tudo aquilo que consciente ou inconscientemente toca nos seus gatilhos.

Assim, pode acontecer que uma experiência negativa intensa vivida há muitos anos, por vezes está recalcada e foi esquecida, possa continuar a produzir efeitos que abalam a qualidade de vida e o bem estar de uma pessoa, sem que esta consiga conscientemente produzir uma ligação entre a situação original e a situação desencadeante, que justifique as suas reações - por exemplo, impulsividade exagerada ou intempestividade, perda de auto-controlo, ataque de ansiedade, stress, fuga e medo irracionais. Muito se tem avançado nas últimas décadas no campo das neurociências mas ainda nos é algo difícil compreender como se estabelecem no cérebro estes processos, e como se desencadeiam reações desproporcionadas e desadaptadas  que podem, entre muitos outros efeitos,  limitar a qualidade das interacções com os outros e afectar a auto-estima.

O EMDR, enquadrado e aplicado por psicoterapeutas, não é uma moda, é um tratamento psicológico que apesar da sua recência já possui um corpo teórico e prático bastante consistente e um conjunto de evidências científicas que o validam, reflexo da investigação acumulada, que fazem com que esta abordagem psicoterapêutica seja considerada um tratamento eficaz e internacionalmente recomendado para as perturbações de stress pós-traumático(PSPT).  Um já vasto conjunto de organizações recomendam o EMDR nas suas  orientações práticas de métodos de tratamento para o PSPT, onde se incluem a Organização Mundial de Saúde (2013), a Associação Psiquiátrica Americana (em 2004 e 2010), o Departmento dos Assuntos de Veteranos e pelo Departamento de Defesa dos EUA (em 2010), a Sociedade Internacional de Estudos de Stress Traumático  (em 2009), o National Institute for Clinical Excellence do Reino Unido (em 2005) e outras organizações pelo mundo fora, incluindo a maioria das Associações de Psicólogos e de Psiquiatras.

Com um nome pouco apelativo, a meu ver, o EMDR é todavia uma terapia poderosa que produz resultados surpreendentes e que vale a pena conhecer.

Abaixo seguem os links para uma entrevista dada pela Dr. Francine Shapiro (criadora do EMDR, e fundadora do EMDR INSTITUTE) ao New York Times (2012):



e para um outro artigo (Dr. James Alexander) que documenta a perspectiva neurológica do EMDR:



Isabel Botelho
Psicóloga-Psicoterapeuta-Executive Coach

quarta-feira, abril 02, 2014

PEQUENOS GRANDES TRAUMAS DA INFÂNCIA

Quando se fala em EMDR, fala-se obrigatoriamente em trauma, o que pode levar a algum reducionismo de uma prática que se tem revelado abrangente, pois há tendência a associar o trauma a situações catastróficas. Se bem que o EMDR começou por ser essencialmente utilizado em pacientes com Perturbação de Stress Pós-Traumático (grande trauma), tem aplicação em quase todas as situações em que existe uma intensa experiencia emocional negativa associada a episódios “menores” (pequeno trauma). Se os grandes traumas são relativamente fáceis de identificar e mobilizar ajuda (acidentes, assaltos, mortes, bullying, abuso sexual, abandono), os pequenos traumas nem sempre são devidamente identificados e valorizados.

Na minha prática clínica com crianças, os pais perguntam frequentemente “qual é a causa?”, procurando identificar a origem da problemática dos filhos. Se muitas vezes a história individual e familiar ajuda a compreender, pelo menos, algumas das causas, outras vezes não conseguimos fazê-lo. Sabemos, sim, que aconteceu algo em determinada altura do desenvolvimento da criança que foi vivido com extrema intensidade. O que costumo explicar aos pais é que existem situações que são relativamente inócuas para os adultos e passam até despercebidas, mas que são vividas com grande angústia pela criança.

A infância é marcada por tentativas repetidas, fracassos e, finalmente, êxitos. Normalmente, as crianças têm o equipamento necessário para lidar com estes desafios. Para atingir estes feitos, a criança precisa de sentir que é amada, que tem valor, que é capaz e que está segura. Episódios de aparente pouca relevância, como uma queda no recreio do jardim-de-infância, engasgar-se com a comida, assistir a uma cena na TV, ouvir um estrondo repentino, ter um pesadelo, observar uma expressão facial de apreensão no pai ou na mãe, ter um mau resultado na escola, assistir a uma discussão, podem pôr em causa o sentimento de valentia e mestria que apoiam o percurso do desenvolvimento e o caminho para a independência. Frequentemente os adultos desvalorizam algumas destas situações porque as consideram normais ou pouco importantes. Por outro lado, poderão achar que a criança nem percebe o que se passa, por isso não vai ficar afetada. No entanto, a capacidade que as crianças têm para compreender a situação e expressar o que sentem é bastante inferior à intensidade com que a vivem.

Na infância as experiências são essencialmente sensoriais com emoções em bruto e, dada a dificuldade em elaborá-las, o reflexo surge sobretudo ao nível do comportamento. Dada a incapacidade em interpretar logica, racional e verbalmente os eventos, as crianças “gravam” na sua mente mensagens negativas que tendem a afetar o seu bem-estar e o seu funcionamento de forma prolongada, muitas vezes até à idade adulta. Alguns exemplos destas mensagens são: estou em perigo, não presto, não sou capaz de fazer nada, ninguém gosta de mim. Quantos de vós, adultos, se reconhecem nestas crenças negativas e como estas interferem na vossa vida pessoal, social e profissional? Imaginemos agora o que estas perceções de si próprias fazem a crianças com a vulnerabilidade típica da idade e sem a capacidade para as perceber, dizer e expressar.

Há tempos, um rapaz de 12 anos que apresentava “acessos de fúria” (entre aspas porque na verdade o que fazia era largar os livros e fechar-se no quarto) quando se confrontava com uma dificuldades escolar, tinha igualmente uma postura adultomorfa e erguia todas as suas defesas quando eu procurava chegar às suas emoções. Cerca de dois anos antes, houve um desacato à porta do prédio entre os pais e um vizinho, que acabou em agressões físicas. Este rapaz, na altura do conflito com 10 anos, ligou três vezes para o 112. Continuava, no entanto, a repetir “eu não fiz nada, devia ter feito alguma coisa para acabar com aquilo”, revelando um sentimento de impotência e uma crença de que devia ter feito mais do que fez. Três anos antes, a avó deste rapaz faleceu. Chegou a vê-la no hospital em fase terminal, mas não se despediu. Depois da morte da avó, começou a revelar grande agressividade na escola, batia nos colegas, atirava com as cadeiras. “Fui muito mau para a minha professora, sou mau quando sinto coisas”. O EMDR ajudou a perceber, mais uma vez, que o pensamento negativo era de que nada fez para salvar a avó. O processamento destas situações ajudou a desbloquear estas crenças negativas e irracionais (sou fraco, sou mau), permitindo a instalação de recursos e respostas mais adaptativos, associados a um pensamento mais positivo: este rapaz fez o que pôde e expressou-se como foi capaz, tendo em conta a sua idade. Passou a ser mais capaz de entrar em contacto com as suas vulnerabilidades, aceitando-as e reagindo de forma ajustada. As dificuldades escolares acentuavam esta perceção de que não era capaz porque era fraco, reagindo com “fúrias” que ao mesmo tempo que o faziam sentir-se mais forte, reforçavam igualmente a ideia de que era mau.

A psicoterapia EMDR foi bastante importante neste caso, tendo em conta que existiam vivências traumáticas que o colocavam numa posição muito defensiva e difícil de quebrar com outra abordagem terapêutica.

Termino com alguns exemplos de reações que as crianças podem apresentar depois de uma vivência traumática (imediatamente a seguir ou algum tempo depois), retirados do livro “Usando EMDR com ninõs”:

-Alterações do Sono: pesadelos, sono agitado, falar/gritar durante o sono, dificuldade em adormecer, medo de ir dormir, enurese noturna;
-Culpa: responsabilizar-se pelo acontecimento e por tudo o que acontece, comportamento excessivamente desajustado que implica castigos ou, pelo contrário, comportamento excessivamente adequado para a idade;
-Regressão: comportar-se como um bebé, dependência excessiva, dificuldade em ficar sozinho, procura excessiva de atenção);
-Medo: medo de aspetos diretamente relacionados com o evento, reação excessiva a ruídos fortes ou movimentos repentinos, reatividade excessiva ao toque, medos vários;


Muitas destas reações são normais e expectáveis em algumas fases do desenvolvimento. É a intensidade, a frequência e a persistência que traduzem que a criança não está a ser capaz de lidar sozinha com os acontecimentos.

Psicóloga Clínica, Psicoterapeuta EMDR
Responsável pelo Departamento da Infância

domingo, março 30, 2014

Estimulação Bilateral e Psicoterapia Psicanalítica

Na minha prática clínica cruzo a Psicoterapia Psicanalítica com a Estimulação Bilateral. Para mim, a estimulação bilateral é uma espécie de enzima que auxilia a digestão mental das experiências emocionais.

Conduzo a sessão como conduziria uma sessão de psicoterapia psicanalítica corriqueira, apenas introduzo pequenas pausas que vão até minuto e meio de estimulação bilateral (auditiva, táctil ou visual) quando sinto que se tornou activa uma situação emocional que não está suficientemente digerida. Este método permite também aumentar a produtividade da sessão, estimulando a associação livre e a intensificação do insigth.


Ana Almeida
Directora Clínica da Psicronos

sexta-feira, março 21, 2014

O EMDR pode ajudar a lidar com uma Traição



Lidar com uma traição é das situações mais difíceis de ultrapassar numa relação amorosa. Para algumas pessoas, uma traição é um ato imperdoável, enquanto para outras é algo que apesar de ser difícil não é o suficiente para acabar uma relação. A descoberta de uma traição numa relação conjugal causa, geralmente, na pessoa traída, um enorme sofrimento, diminuição da auto-estima, depressão, afastamento social e, em casos extremos, falta de vontade de viver.

Lidar com uma traição pode ser uma situação de tal forma dolorosa 
que podemos considerar um trauma


Independentemente da decisão que tomar: sair da relação ou permanecer na mesma, o recurso ao EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing/Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares) poderá facilitar o processo de aceitação de um acontecimento tão tóxico como uma traição e ainda a conviver com a raiva e as dúvidas associadas. 




quinta-feira, março 13, 2014

PRAXES: uma perspetiva psicológica


Depois de algum tempo decorrido sobre o debate público sobre as praxes (suscitada sobretudo pelas mortes de estudantes alegadamente em contexto de praxe), gostava de escrever algo sobre o assunto. Poderá já ser algo tardio mas tem a vantagem de poder ser escrito e lido de forma mais ponderada e menos reativa. 

Um dos debates públicos a que assisti sobre o tema e que me chocou foi o debate feito no programa da RTP1, os "Prós e Contras" (http://www.rtp.pt/play/p1099/e142806/pros-e-contras). Começou como costuma começar o programa, com uma video-reportagem a fazer o apanhado da situação, neste caso das praxes. Este vídeo mostrava trechos de praxes de norte a sul do país onde estavam presentes algumas das faculdades representadas por estudantes no programa. Como estudante que fui da Universidade de Lisboa e tendo assistido a muitas praxes em redor da mesma (durante e pós curso), as atividades que vi retratadas na video-reportagem correspondiam ao tipo de atividades que eu já conhecia. 


Qual não foi o meu espanto quando vejo todo um programa de excelência de debate e reflexão pública a ser quase completamente sabotado por fenómenos grupais de denegação e ataque. Não me refiro apenas à manifestação exaltada, ao estilo de um claque de futebol, da plateia, mas sobretudo a uma posição altamente defensiva dos discursos dos principais intervenientes e representantes da posição pró-praxe. O fenómeno foi tão intenso, a meu ver, que acho merecedor de uma análise per se

Muito simplesmente, todos os representantes de Associações de estudantes das diversas Universidades, a par do Professor de Direito, Eduardo Vera Cruz, foram unânimes e peremptórios em afirmar, não só que a video-reportagem não representava a prática comum e a essência das praxes, como até se sugeriu ter havido, consciente ou inconscientemente, uma seleção enviesada dos piores trechos por forma a passar uma imagem distorcida e desfavorável das praxes. Desta forma, consegui-se chegar ao fim de um programa relativamente longo, sem que a quase totalidade dos estudantes admitisse que as praxes são atividades semelhantes às filmadas publicamente, nem tão pouco se definisse mais concretamente o que são então as praxes na perspetiva dos defensores das mesmas (houve sobretudo pseudo-argumentos que desviavam a atenção exultando as práticas grupais ligadas à Tunas, às serenatas, etc. que muito pouco têm a ver com as praxes propriamente ditas). 

Ou seja, não foi possível haver consenso sobre a primeira questão mais básica: o que são as praxes? Afinal de contas o problema todo residirá na observação, descrição e interpretação "objetiva" da realidade do que se passa nestas atividades grupais. E é esta questão que não pôde ser aprofundada neste grande debate, quer por ter sido desvirtuada pela maioria, quer por não ter havido tempo ou outros níveis de análise mais penetrantes. Gostaria de explorar então um pouco desta questão, relacionando-a com o fenómeno acontecido neste debate.

Sem me querer alongar muito, a praxe corresponde, a meu ver, a um ritual grupal de iniciação/integração num grupo. Mas definir a praxe apenas por esta definição parece não captar a especificidade da maior parte da natureza destas práticas, envolvendo atitudes de domínio e comando, hierarquia, submissão e mesmo humilhação, mais ou menos, coercivas e violentas, principalmente psicologicamente mas também fisicamente (penso não ser assim tão raro). E sobre isto destaco dois pontos:

1- O principal argumento pró praxe parece ser o de que é um importante meio de integração, conhecimento uns dos outros e aprofundar dos laços de formas divertidas. A questão que fica é: será que para haver integração e interação entre colegas recém-chegados e colegas mais velhos, tem de se recorrer a práticas de supremacia e dominação (ainda que, como disse, com diversos níveis de brincadeira, afetividade, coerção ou pressão)?

2- O segundo ponto é talvez o busílis de toda a questão: desde quando é que as brincadeiras que se fazem nas praxes podem ser qualificadas na sua maioria por adjetivos tão pesados como "violentas", "humilhantes", "dominadores", " de submissão", "coercivas"? É aqui que penso haver uma grande dificuldade, não só ao nível dos defensores das praxes, como ao nível mais abrangente da sociedade. Penso que esta é uma das questões que merecia ser debatida e pensada a um nível mais geral e profundo. Tem que ver com o que penso ser ainda, uma transição de valores culturais. Antigamente, por exemplo, a escravidão não era uma violência era normal e natural; antigamemte o voto exclusivamente masculino não era discriminatório, era realista e normal; antigamente a violência doméstica não o era, era simplesmente banal e nada de mais; antigamente as crianças eram posse dos progenitores e desprovidas de direitos, hoje em dia cada vez mais são consideradas como sujeitos com uma dignidade e direitos próprios. Ou seja, a sociedade tem caminhado cada vez mais no sentido de uma maior sensibilidade e proteção dos mais fracos, valorizando a igualdade e liberdade de todos em cada vez mais situações. 

No entanto, estamos longe de ser capazes de discernir com a clareza e indignação suficientes, muitas formas de violência que hoje ainda passam muitas vezes por normais e abaixo do limiar da preocupação/consciência. Não são bem "violências", são manifestações mais ou menos ajustadas ou dentro do socialmente aceitável e que não se justifica serem "dramatizadas". Um destes exemplos é o uso da violência física na educação dos nossos filhos. Dá muito trabalho educar sem bater: exige uma auto-regulação constante, um grande trabalho a montante que envolve muita disponibilidade, paciência e intervenção firme, calma e atempada. É quando algo de entre isto tudo falha que surge a necessidade de coerção ou punição física como descarga da tensão do pai e controlo desesperado da conduta do filho. Esta questão é atualmente controversa por levantar muitas questões de natureza prática e que não terei oportunidade de desenvolver aqui mas que poderá ser aprofundada de forma muito prática e elucidativa no livro "Educar sem bater", de Luís Maia.

Mas isto tudo para voltar à questão, que penso colocar-se neste momento na mente de muitos estudantes defensores da praxe: desde quando é que as brincadeiras que se fazem nas praxes podem ser qualificadas na sua maioria por adjetivos tão pesados como "violentas", "humilhantes", "dominadores", " de submissão", "coercivas"? Esta questão pode também ser acompanhada de outras semelhantes mas respeitantes a outras áreas: desde quando é que dar uma palmada no meu filho é "crime", ou reprovável ou negativo? Desde quando é que insultar veementemente um árbitro é excessivo e não simplesmente normal e natural?

Ou seja, a questão de fundo prende-se com o que foi exemplarmente aprofundado no livro "A loucura da normalidade", de Arno Gruen. É que a responsabilidade daqueles que possuem uma maior experiência e conhecimento (ou seja, os nossos pais, patrões, os decisores e todos os que, como os alunos veteranos, estão numa posição privilegiada (de maior poder) face aos outros) é ainda frequentemente exercida e acompanhada da contrapartida da submissão, controlo e dominação. Em vez de ser um ato de cuidar generoso, é uma troca: eu dou-te coisas e protejo-te e tu prestas-me serventia, reverência ou submissão. Claro que esta troca, mais ou menos "generosa", não é, na maior parte dos casos consciente. No entanto, esta dinâmica de dominação, obediência e conformismo está ainda muito enraizada culturalmente.
Veja-se um trecho do livro de Arno Gruen, exemplificador deste fenómeno na educação:

"«Torno-me no que tu queres para tu tratares de mim. A minha sujeição é, a partir de agora, o meu poder sobre ti, com o qual te obrigo a dedicares-te a mim.» Assim, o ato de se fazer dependente converte-se na vingança pela sujeição. Este ato tem várias facetas. Primeiro, a criança adota o critério dos pais. O que dá pelo nome de interiorização. É, portanto, um processo de colaboração pela subjugação. Segundo, isso significa que a criança começa a odiar em si tudo o que possa fazê-la entrar em conflito com as expetativas dos pais. E, terceiro, este ódio de si próprio acarreta a predisposição a subjugar-se cada vez mais."

Este fenómeno, eminentemente, inconsciente (porque intolerável à consciência humana!) funda a violência humana, no ataque que faz à autenticidade e autonomia da criança. Ela aprende desde que nasce que se fizer certas coisas é má e que os pais ficam contentes com ela se for como eles "querem". E assim, nasce a troca social fundadora da dominação, obediência e conformismo: troco a minha liberdade, autonomia e (auto-)empatia, bem como, a minha responsabilidade, pela segurança e conforto do conformismo fomentador da pertença e aceitação. O "conformista" típico poderia então ser definido como "um homem sem grande ambição, mas capaz de arranjar uma explicação do mundo que lhe permita viver sem ambiguidade" (Naipul, cit. por Gruen, 1995).

Este fenómeno pode ser visto com grande clareza nos casos extremos que são os cultos e seitas, ou os contextos de guerra (o holocausto, em particular) onde a obediência é claramente mais valorizada do que a liberdade e responsabilidade pessoais. Ou ainda no chamado "síndrome de Estocolmo", em que os subjugados são de tal forma coagidos que "aprendem" mesmo a aliar-se aos agressores como forma inconsciente de se aliarem à vida (evitando assim o medo de morrer associado naquele contexto à desobediência e à liberdade). 

Retomando o exemplo das praxes, podemos ver como parece ser um fenómeno, quase a meio termo entre cultura e culto: possui um código próprio, uma organização social e hierárquica bem definida e rituais grupais. A amostra do comportamento das comissões de praxe e outros estudantes presentes no programa Prós e Contras agiram como um grupo muito coeso e uniforme (nas ideias e nos "uniformes") numa lógica de in group, out group, ou seja, defendendo instintivamente os seus e reagindo agressiva e instintivamente aos de fora, aliás, numa lógica semelhante às interações entre "veteranos" e "caloiros". Os valores do grupo foram tão manifestamente presentes que surpreendentemente se sobrepuseram à própria realidade do que são as praxes, numa atitude de denegação defensiva da realidade com o objetivo de proteger o clã. 

Outra questão diz respeito aos processos inter-geracionais e culturais que levam à continuidade e manutenção do sistema. Sabe-se que a aprendizagem social se faz sobretudo por identificação aos modelos sociais. Numa sociedade de hierarquia e poder, quem foi subjugado quererá depois redimir-se e subjugar alguém assumindo ele próprio o poder do seu modelo de relação.

A verdade é que o contexto de praxe fomenta dinâmicas relacionais de sadismo e masoquismo que, por melhor que se possam desenrolar e tolerar na maior parte dos casos, são um terreno muito propício a abusos daqueles que mais abusados foram nas suas vidas e por isso mais rédea solta dêem aos seus impulsos sádicos. O que fazer? Não sei. Antes de mais pensar e sensibilizar para o assunto.  

Para terminar o artigo que já vai longo, chamar à atenção para os traumas que resultam destas dinâmicas sociais de certos graus de violência, sobretudo psicológica. Hoje, felizmente, já não é só a violência física que é fonte de preocupação e cada vez mais se atenta a esta, muitas vezes pior, forma de violência. Neste sentido, a psicoterapia EMDR revela-se como particularmente útil pela sua vocação e eficácia de realce em problemáticas de cariz traumático.

Sobre EMDR: http://www.psicronos.pt/consultas/emdr_12.html  

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

DESENVOLVER a C R I A T I V I D A D E com EMDR (Eye Mouvement Desensitization and Reprocessing)


Quero escrever o presente post, e sinto-me com dificuldade de arranque.   

Como é que o EMDR poderá estar ao serviço da instalação de recursos para o desenvolvimento da criatividade? Impasse...                                                                                                                    
Resolvo ‘beber do próprio veneno’, isto é, aplicar o próprio método à produção deste texto e seguir a via da experiência.  Socorro-me de um colega especializado também em EMDR, para realizar comigo o processamento bilateral,  e desbloquear o meu impasse de escrita. O que descrevo seguidamente é tão simplesmente o que se passou comigo, ao nível consciente dos pensamentos, imagens, sensações e emoções,  durante os  breves 15 minutos de processamento que fizémos e que ilustra o processo em si, e os efeitos que poderá provocar em matéria da percepção e das associações.

I. Sendo questionada sobre que imagem me ocorre que possa representar a criatividade, à medida que decorre o primeiro set de estimulação bilateral, surge-me  a imagem de uma torneira cromada absolutamente vulgar.

II.“Regista isso e continua a partir daí” ouço o meu colega dizer-me; da minha parte,  sinto-me tranquila e mantenho presente a imagem dessa torneira. A única coisa que me ocorre nessa etapa do processamento é que a criatividade,  tal como a torneira pode estar fechada ou aberta, mais fechada ou mais aberta. E se estiver fechada a criatividade também é estancada.

III.Prossigo, de olhos fechados –com novo set de estimulação-, e surge-me que o caudal da água, e da criatividade, serem mais abundantes de acordo com a potência do abastecimento (a quantidade do recurso na rede) e com a ação, deliberada ou não,  exercida sobre a torneira...condições externas e internas. Reparo, ou penso, que tal como o corpo para funcionar eficazmente precisa da necessária hidratação também a mente, e a pessoa no seu todo, precisam dessa outra hidratação gerada pelo fluxo de criatividade ou energia criativa, para as fazer sentir plenas e vivas; e que qualquer corte ou bloqueio da criatividade ameaça esse funcionamento podendo provocar impasses, quase sempre acompanhados dalgum sofrimento psíquico, e chegar a comprometer satisfação, prazer, auto-estima, e resultados.

IV. Continua a estimulação, e ocorre-me que o fechar da torneira, e neste caso o bloquear da criatividade, são intencionalmente, ou não, accionados (ou agidos) pela pessoa...Pergunto-me sobre o que levará alguém a querer travar a sua criatividade e impedir-se de sentir o gozo do seu fluxo e o resultado da sua ação? Visualizo uma imagem completamente branca (a criatividade) que começa a partir do canto superior direito a ser vigorosamente inundada de espessa tinta preta que toma conta, esconde, devora ou asfixia o espaço branco - como se no espaço tridimensional de um tanque de água, ou do mar,  a transparência da água desaparecesse com o ataque de tinta preta libertada por um polvo... 
Na imagem bidimensional original o branco desaparece muito rapidamente , aniquilado pelo poder invasor da tinta preta e fica uma pequena ilha branca a resistir no canto inferior esquerdo da página dominada pela fúria do negro. Sinto-me transtornada fisicamente à medida que esta imagem aparece: inquieta e com uma sensação desagrável no abdomen, uma sensação de murro no estômago. Como num cartoon, imagino essa pequena mancha branca espartilhada, e encostada às margens, a ganhar vida e a começar a mexer-se,  começando a escavar por entre a tinta preta,a riscá-la de branco, e vejo-a a aumentar a sua margem e a reconquistar o seu espaço...


















Terminámos por aqui, o que não sucederia numa sessão de EMDR, em geral com uma duração bastante mais longa (60-90 minutos). O que fica registado é a descrição objetiva desta experiência pessoal e do que subjetivamente sucedeu durante a micro-sessão.

O EMDR pode ser utilizado por terapeutas especializados não somente para alteração de padrões repetitivos entrelaçados com memórias traumáticas e ultrapassar situações perturbadoras, mas para produzir material associativo e para desenvolvimento e instalação de recursos como, neste caso, da criatividade. 
Esta intervenção é particularmente útil  quando pensamos em pessoas que dependem fundamentalmente deste recurso para o desempenho da sua performance artística ou criativa, e para quem estes impasses  e 'nós' podem acarretar custos pessoais e profissionais elevados.


Isabel Botelho
Psicóloga - Psicoterapeuta - Executive Coach



quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Descargas Emocionais em EMDR

Uma das coisas que pode correr menos bem do ponto de vista do terapeuta, quando está a trabalhar com EMDR, são as ab-reacções. Ou seja, quando a resposta emocional ou fisiológica do paciente é tão activada que a vivência de um qualquer evento traumático surge quase "aqui e agora". Por isso é fundamental que quem aplica EMDR seja terapeuta de formação. Caso contrário, existem sérios riscos de "a cura ser pior que a doença" e tornar uma dessensibilização terapêutica numa nova experiência traumática para o paciente. Conhecer métodos de contenção e intervenção na crise são imperativos quando se trabalha com uma ferramenta tão poderosa.


Quando consultar um terapeuta EMDR certifique-seque a formação base é também em psicoterapia (psicanalítica, cognitivo-comportamental, etc.) e que o terapeuta em causa é membro da Associação Portuguesa de EMDR (que valida o nível de formação). Pela sua saúde!



Carla Ricardo
Psicóloga e Psicoterapeuta
Psicronos Setúbal

sexta-feira, janeiro 31, 2014

EMDR e Avaliação Escolar: Como vencer o monstro dos testes?

Dores de barriga, suores, mãos trémulas, “brancas”… são os sintomas mais frequentemente descritos no que respeita à ansiedade associada aos momentos de avaliação. Se bem que talvez todos nós já possamos ter experienciado estas sensações, para algumas pessoas este é um pesadelo recorrente e incapacitante.

A ansiedade dos testes caracteriza-se por pensamentos ruminativos assentes na apreensão e na auto-desvalorização, com ideias de catástrofe iminente (não vou ser capaz, vou chumbar…), que levam a uma forte ativação fisiológica e emocional. Esta rápida erupção de pensamentos negativos perturba a atenção do aluno e prejudica a execução das tarefas. O pavor de não ser capaz transforma-se muitas vezes numa profecia auto-realizável, ou seja, tanto se convence que não é capaz, que acaba mesmo por não o ser. Esta ansiedade dos testes pode assumir uma tal proporção que se alarga ao período de preparação e estudo, sendo o aluno dominado pela apreensão e pela expetativa de fracasso. Os pensamentos de inadequação e incompetência dominam a mente, enviando mensagens permanentes de um desempenho pobre e de consequências catastróficas do fracasso. Deste modo, o aluno pode começar a ter um comportamento evitante relativamente a tudo o que antecede a avaliação.

Esta ansiedade de desempenho ou de avaliação muitas vezes não se restringe aos resultados nem à idade escolar, podendo também verificar-se no teste para tirar a carta e condução, em exames médicos, em atuações em atividades extra-curriculares, falar em público, ou seja, sempre que as competências vão ser apreciadas (examinadas por outro e, de certa forma, pelo próprio).

A maior parte dos alunos reconhece estar preparado e saber a matéria, mas depois têm “uma branca” ou um “ataque de ansiedade” que os impede de realizar a avaliação. Este problema é muitas vezes desvalorizado ou encarado como uma “frescura”, mas pode de facto condicionar significativamente o desempenho da criança, do adolescente ou do adulto, prejudicando o seu futuro. As crianças são confrontadas, cada vez mais cedo, com a pressão das avaliações, do desempenho, das médias, numa fase em que a aprendizagem devia ser divertida. A falta de recursos emocionais para lidar com estas exigências pode aumentar a probabilidade de sofrerem desta ansiedade de desempenho de forma prolongada se não receberem ajuda.

O EMDR parece ser uma ferramenta terapêutica bastante eficaz na diminuição dos sintomas de ansiedade associada aos testes. Estudos indicam que em apenas uma ou duas sessões, existe uma diminuição sintomática de cerca de 50% no que respeita à componente emocional e fisiológica. No entanto, as crenças irracionais (sou incapaz, não sei nada, não valho nada, sou burro…) parecem ser um pouco mais resistentes, necessitando de mais sessões, embora a intervenção seja frequentemente mais curta do que em outro tipo de modalidades terapêuticas.


Tendo em conta que se trata de uma problemática que requer uma resolução rápida de modo a aumentar a funcionalidade do aluno, o EMDR parece ser de facto a modalidade mais indicada. Não deve, no entanto, ficar-se pela diminuição sintomática, sendo necessário dar continuidade à intervenção de modo a que as crenças negativas que permanecem não deem lugar a outro tipo de sintomatologia em situações análogas. De recordar, que o EMDR é uma abordagem terapêutica que assenta em vários canais: imagético, emocional, cognitivo, sensorial, não devendo nenhum ser descurado.

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta EMDR/Psicanalítica
Departamento da Infância (Lisboa)