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quarta-feira, maio 28, 2014

SEXO VIRTUAL

O vício do sexo virtual


Uma das consequências de um desejo sexual hiperativo

A compulsão sexual ou o desejo sexual hiperativo, nome por que também é designado o excesso de desejo sexual, é um dos problemas mais diagnosticados nas consultas de sexologia, de acordo com o sexólogo Fernando Mesquita.
Vários estudos mostram que a compulsão sexual afeta entre 5 a 6 por cento da população, principalmente homens (o número de homens que fazem sexo virtual é quatro vezes maior).
No entanto, estes números podem ser, na realidade, bem mais elevados. «Muitas destas pessoas não reconhecem o problema, outras sentem-se de tal forma constrangidas que optam por escondê-lo», alerta o especialista. A mais recente comédia de Joseph Gordon-Levitt, «Don Jon», mostra bem até onde pode ir o vício do sexo virtual. Don Jon, como os amigos lhe chamam, uma espécie de Don Juan moderno, é conhecido pela sua capacidade de seduzir o sexo oposto.
No entanto, nenhum encontro se compara ao êxtase que obtém sozinho, ao computador. Don Jon é viciado em pornografia e retrata os problemas normais de quem vive com esta compulsão, como a incapacidade de reconhecer que tem um problema e que precisa de ajuda, mas, ao mesmo tempo, é um exemplo de como o vício pode ser superado, quando conhece a mulher por quem se apaixona verdadeiramente e que o faz ver a vida de outra forma.
Está em risco?
«A visualização de pornografia, ou a prática de sexo virtual, pode tornar-se viciante, especialmente por apresentar uma grande variabilidade de oportunidades. Com o recurso à internet, a imensidão de estímulos não tem conta. Além disso, a pornografia e o sexo virtual são de gratificação imediata», explica o sexólogo Fernando Mesquita. É um problema comum em pessoas psicologicamente saudáveis, mas, geralmente afeta pessoas ansiosas e com dificuldade no controlo dos impulsos, ou pessoas tímidas, com fobia social ou dificuldade em estabelecer relações.
Os efeitos nefastos
Para estas pessoas, a necessidade de sexo leva a um dispêndio de tempo anormal em atividades necessárias para satisfazer os seus desejos. A maior parte dos dias é passada a planear, imaginar e a procurar oportunidades sexuais. Tal como nas outras dependências, pode surgir alguma tolerância e o nível de atividade passa a ser insuficiente para o indivíduo.
Essa situação faz com que necessite de quantidades crescentes para manter o nível de alívio emocional. Como resultado, este vício acaba por interferir no trabalho, hobbies e nas relações familiares e sociais. O início do tratamento começa quando a própria pessoa reconhece que tem um problema e que precisa do acompanhamento de um terapeuta.

Texto: Sofia Cardoso com Ana Cristina Almeida (psicóloga clínica e diretora clínica da Clínica Psicronos em Lisboa), 
Cláudia Sousa (psicóloga clínica no Instituto Cuf) e Fernando Mesquita (psicólogo clínico e sexólogo)
Edição internet: Luis Batista Gonçalves



quinta-feira, maio 10, 2012

PROJECÇÕES E INTROJECÇÕES


“SHAME” : o novo filme do artista britânico Steve McQueen / Adição sexual e muito mais



"Shame" é um filme avassalador. Avassalador tanto estética, como narrativamente. 
E na nossa condição de voyeurs somos mais voyeurs, tão próximos que ficamos da personagem principal do Brandon, magnificamente interpretada pelo actor Michael Fassbender.  Sentimo-nos colados à sua pele, e ao mesmo tempo vemos dele o que os que com ele convivem não vêem totalmente, sem, contudo, o viver por dentro, sem identificação projectiva. 

A técnica de filmagem recorre ao close-up, a planos muito belos, próximos e precisos que nos aproximam forçadamente dos personagens, com uma crueza que capta o vazio e a nudez, e simultaneamente nos fazem ver e sentir... mais ou menos desconfortavelmente a vida sem passado, nem futuro de Brandon. Inóspita porque sem espaço para albergar afecto.

A história centra-se sobre o tema da adição sexual e do consumo de pornografia que tapa o vazio da existência do executivo nova-iorquino. Apesar da brutal proximidade, e da crueza doméstica do corpo, da quase ausência de história,  não nos escapamos da trama tecida de conflitos internos e relacionais, de desespero, de drama do vazio, e da incapacidade de intimidade. Este último aspecto fica bem claro num encontro com uma colega de trabalho, em que esta procura estabelecer um contacto mais humano e emocional, resultando num encontro sexual defraudado. O sexo já não pode acontecer ali contaminado que está pela aproximação e contacto.

Mas o epicentro da perturbação, uma tensão incestuosa indizível e omnipresente que atravessa o filme, acontece com a chegada da irmã Sissy ( belissimamente interpretada por Carey Mulligan)  e na intensidade da cena em que esta canta uma melancólica e perdida (como ela) versão do “New York, New York”.

O tema da incapacidade para estabelecer relações íntimas e verdadeiros laços afectivos, recorrente nos nossos dias, encontra eco nos nossos consultórios. Uma espécie de dor sem narrativa, nem conteúdo que se encontra enraizada no mais longínquo da história e experiências pessoais de cada um.  Sissy explode, e Brandon implode, como duas facetas desfeitas da mesma coisa.

Um filme que nos faz pensar, e que nos faz sentir, interpelando-nos como se espera de uma experiência estética, sem que a indiferença ocupe o lugar do espectador. Vício e abismo. Auto-destruição e vergonha. Sem redenção. A ver.