segunda-feira, março 02, 2015

Memórias de um Percurso Psicoterapêutico

Fica um breve relato de alguém que decidiu partilhar connosco algumas memórias do seu tempo durante a psicoterapia.

"Fazer psicoterapia foi como o iluminar de um mundo que apesar de tão conhecido, se mantinha na verdade tão incógnito e assombrado. Foi como que uma luz que ao longo do tempo desvelava cada vez mais formas que até então permaneciam ocultas e outras vezes confusas. Do assombrado ressurgiam fantasmas antigos que dissimulada e engenhosamente foram conseguindo fazer lar e zona de conforto dentro de mim. Na verdade mais não faziam senão criar tormento, persistir no direito a esse lugar no meu íntimo e tornar a minha vida penosa e inóspita. Cada fantasma exorcizado, cada ferida sarada, cada problema identificado, cada progresso conseguido, era como que assistir a uma alquimia interior contínua. Era assistir à mudança gradual da visão sobre tudo e sobre todos, e consequentemente como as minhas relações fora das sessões também mudavam, se tornavam mais estáveis, mais profundas e mais gratificantes. Foi livrar-me daquilo e daqueles quem me prejudicavam, sobretudo dentro de mim - fantasmas do passado, figuras distorcidas por emoções muito fortes e não "digeridas", padrões automáticos de sentir e agir aprendidos no passado, etc. -, e depois foi fácil isso acontecer também nas minhas relações. Tudo mudou muito dentro e fora de mim. Passou a ser fácil relacionar-me com as pessoas, porque podia agora conhece-las como verdadeiramente eram, e porque me conhecia cada vez mais e mais, sem ilusões ou distorções! Foi um romper de amarras e paredes limitadoras e aprisionantes, lentamente e a cada sessão. Foi um longo caminho de duras batalhas, mas de progressos firmes e bem notórios. Cada progresso foi como uma conquista de liberdade e o desabrochar progressívo de um sentimento cada vez mais tangível de capacidade e possibilidade livre, não condicionada. 

Podia ter feito psicoterapia mais cedo, o que não aconteceu por desconhecimento de muitas coisas, sobretudo da diferença entre aquilo que dentro de nós e nas nossas vidas é normal e aquilo que é sinal de desequilíbrio, e de como o ser humano é perito na auto-ilusão. Algumas leituras e conversas com amigos psicólogos começaram a fazer-me mesmo muito sentido. Quase todos nós achamos que a nossa família é normal, que o nosso passado foi "normal", porque não temos a experiência de ter e estar em nenhuma outra família senão a nossa. Depois quando as coisas mais tarde correm mal nas nossas vidas conseguimos perceber, pela psicoterapia (ou por alguns livros muito úteis), que afinal algumas coisas não correram assim tão bem. Percebemos também porque é que precisámos de criar a visão ou fantasia que tinha corrido tudo bem. A partir daqui as coisas começam a mudar, porque através da psicoterapia vamos conseguindo enfrentar aquilo que outrora não conseguimos sozinhos. Vamos arrumando o sotão e sarando o coração."

- D.

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