segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Perturbações do Sono nas Crianças

São vários os aspectos que podem perturbar o sono das crianças. Em determinadas situações podem contribuir negativamente para o desenvolvimento da criança e afetar certas atividades como, por exemplo, a escola nas suas várias dimensões. Normalmente não são graves e passam com a idade, no entanto dar-lhes a atenção adequada pode ajudar a criança a ultrapassar estas fases com mais facilidade.

Insónias
Uma insónia caracteriza-se essencialmente pela falta de sono ou pela dificuldade prolongada em adormecer. Geralmente estão associadas a momentos críticos do desenvolvimento ou a uma mudança brusca na vida da criança com, por exemplo, uma mudança de escola, de quarto, separação entre os pais, morte de um amigo ou familiar, doenças, nascimento de um irmão, entre outras.

Agitação Noturna
A agitação nocturna caracteriza-se por uma perturbação rítmica do sono em que a criança pode bater com a cabeça, virar a cabeça de um lado para o outro continuamente, simular convulsões, gemer, grunhir, rosnar e/ou dar gritos. Na maioria dos casos é uma situação normal.

Terrores Noturnos
Os terrores nocturnos não devem ser confundidos com pesadelos. A idade em que normalmente ocorrem os primeiros é mais precoce. No terror nocturno, a criança grita - muitas vezes um autêntico grito de terror - e apresenta grande agitação corporal. Este é um fenómeno que se instala normalmente na segunda metade da noite e que transporta a criança para um estágio em que nem está acordada nem está a dormir. Desta forma, não lhe é permitido fazer a distinção entre sonho e realidade, pelo que não está apta a dar pela presença dos pais podendo até, na influência deste estado, lutar para os afastar.
Os episódios de terror noturno podem despertar um enorme sentimento de desespero e de impotência nos pais, uma vez que tentar acalmar a criança não resulta podendo até, no caso de forçar o acordar, que a criança confunda os pais com as sensações que está a ter e isso aumentar ainda mais a confusão. O  melhor será contar uma história em tom de voz calmo, repondo a criança numa posição confortável na cama para que volte a dormir tranquilamente.

Pesadelos
Os sonhos ocorrem várias vezes em fases de sono REM (“Rapid Eye Movement”), normalmente 4 a 5 vezes por noite e dependem da criança, da idade e dos acontecimentos do dia-a-dia. Os pesadelos caracterizam-se como sendo um sonho desagradável. Não se sabe o que os provoca, mas sabe-se que determinados incómodos físicos ou acontecimentos os podem desencadear, tais como dormir numa cama pequena, dormir sobre um braço ou uma perna que estão a ser magoados, ter a bexiga cheia, ter frio, mudança de escola, nascimento de um irmão, morte de um familiar, mudança de quarto, assistir a um filme de terror ou ouvir uma história em que existam vilões, animais ferozes ou ocorrências negativas, entre outros. Os pesadelos começam geralmente por volta dos 3 anos, uma vez que é nessa idade que a fantasia começa a povoar o mundo das crianças. Os pesadelos são acontecimentos normais, excepto se se acentuarem e se tornarem rotina.
Em caso de pesadelos, a criança pode mesmo acordar e muitas vezes até se consegue lembrar do sonho. É importante a presença dos pais para testemunhar que «tudo não passou de um pesadelo». E isso tem que ser dito mas, sobretudo, mostrado afectivamente com abraços e colinho. Só assim, através do mimo, a criança consegue libertar-se do medo. A voz tranquila da mãe ou do pai ajudam muito, mas para isso não podem estar a pensar em si, na noite interrompida, no trabalho do dia seguinte ou que já não vão dormir essa noite. Às vezes é preciso fazer uma vistoria ao quarto, para ajudar a entender que não está nenhum monstro escondido. Finalmente, dizer taxativamente: «tiveste um sonho mau, mas foi só um sonho» e pegar em algo que a criança diga, servindo-se também do objecto transicional (fralda/boneco preferido, etc.) ou de uma história que possa repor a calma e a confiança de que tudo vai ficar bem.
A análise do sonho poderá ficar para o dia seguinte num ambiente de brincadeira. Convém perceber – quando os pesadelos se repetem ou quando são sempre sobre o mesmo tema – se há algum factor na vida da criança que lhe possa estar a provocar stresse. Se não ocorrerem melhoras, será bom falar com alguém especializado, pois em algumas situações são um sinal de que algo não está bem com a criança.

Sonambulismo
Define-se sonambulismo como o «semi-acordar e andar». Quando se está a dormir o corpo fica relativamente imóvel. No entanto, no caso do sonambulismo, os mecanismos de paralisação do sono não actuam de forma eficaz e a criança deambula pela casa, com uma relativa percepção do espaço. Para reduzir o risco de acidente, é bom ter uma luz de presença nos corredores. Se a criança dorme em beliche deverá fazê-lo sempre na cama de baixo. Proteger escadas e fechar as portas exteriores (ou da casa de banho e da cozinha) à chave é fundamental. Quando dá conta que o seu filho anda pela casa, reencaminhe-o suavemente para a cama, orientando o percurso, sem falar ou dizendo um mínimo de palavras com voz suave e carinhosa.
O sonambulismo pode corresponder a fases de transição de ritmo de sono e a sonhos e normalmente acontece cerca de duas horas após o deitar, embora varie de criança para criança. O sonambulismo tende a passar com a idade.

Bruxismo
O bruxismo é o nome médico do vulgar ranger dos dentes durante o sono. Pode resultar de um controlo ainda imperfeito dos movimentos maxilares, do desalinhamento dentário normal da idade, de parasitas intestinais, entre outros. Tirando as excepções mais graves em que um dentista deve ser consultado, o bruxismo tende a desaparecer, embora se possa prolongar até à adolescência. Os pais podem ajudar, sobretudo quando há stresse envolvido, mantendo-se calmos e fazendo da hora do adormecer um momento tranquilo.

Algumas Sugestões Para Ajudar a Criança a 
Ultrapassar as Diversas Perturbações do Sono

1. Abraçar e confortar a criança, falando tranquilamente.
2. Ouvir os seus receios com atenção e respeitá-los (pode inclusive explicar-lhe que quando era criança também lhe aconteceu o mesmo);
3. Fazer com que a criança entenda que você está ali e que não permitirá que algo aconteça;
4. Aceitar as sugestões da criança ou indicar-lhe soluções (pegar numa vassoura e varrer os medos, deixar um peluche num lugar especial que a irá proteger, espalhar uns pós mágicos, abrir os armários e espreitar debaixo da cama para ver que não existe nada de mal, etc.)
5. Oferecer à criança um objecto de conforto, como por exemplo o seu peluche preferido ou deixar uma luz de presença acesa;
6. Durante o dia, sempre que for possível, abordar o assunto de forma natural e tentar não super-proteger exageradamente.
7. Decorar o quarto da criança de forma harmoniosa e de tornar agradável o momento de dormir, colocando uma música calma, uma luz serena, contar ou assistir a uma história (caso a mesma tenha acontecimentos ou personagens negativa explicar que no final o "bem" acabará por vencer ou, nos casos mais graves, alterar a história), etc. Acima de tudo, tranquilize-se e transmita calma ao seu filhote.

Se os sintomas persistirem procure a ajuda de um Psicólogo ou de um Pedopsiquiatra. O profissional ajudá-lo-á a compreender o que se passa com o seu filho e juntos poderão resolver o problema.


António Neves
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta
Departamento da Infância (Delegação da Maia)

http://www.psicronos.pt/consultas/psicologia-e-psicoterapia-infantil_5.html

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