quarta-feira, outubro 23, 2013

As mentiras das crianças (I)

“Eu sei que foi ele e ele diz-me na cara que não, como pode ele mentir tão descaradamente?!”
Todos os pais desejam que os seus filhos sejam honestos e verdadeiros, de modo que a mentira é algo que provoca preocupação e até algumas suspeitas (na maior parte das vezes infundadas) relativamente à personalidade futura da criança.

A mentira está, em parte, relacionada com a fase do desenvolvimento moral em que se encontra, mas também é altamente condicionada por atitudes parentais e por fatore sociais, assim como pela forma como a criança experiencia determinadas situações.

Até aos 3 anos, talvez nem se possa chamar ainda de mentira; talvez ocultação ou negação sejam os melhores termos! Nesta fase, é ainda tudo muito confuso e a criança sabe apenas que depende do adulto para sobreviver. A criança percebe que fez algo de mal pelo tom de voz com que o adulto fala, o que a assusta e, para se sentir novamente segura, nega os feitos de que é acusada (partir um objeto, por exemplo), muitas vezes sem compreender verdadeiramente a sua responsabilidade.

Por volta dos 4 anos, a mentira é muito transparente e reflete diretamente o desejo da criança (“foi ele que me deu o carrinho, eu não tirei”), apesar de terminar muitas vezes com “foi sem querer”. A partir daqui, já vai desenvolvendo alguma compreensão do significado da mentira, embora a necessidade de satisfação imediata, a culpabilidade e o receio de perder o amor dos pais se sobreponham à verdade. Quando são educadas em contextos que valorizam a verdade, as crianças tendem normalmente a segui-la pois querem ser reconhecidas e receber a aprovação dos pais, para além de defenderem a justiça e o bem,  chegando até a acusar os pares quando detetam a mentira.

No entanto, até aos 7 anos, a criança ainda está a perceber a diferença entre a fantasia e a realidade e o adulto participa ativamente no seu mundo do faz de conta, pelo que muitas vezes fica confusa e tem dificuldade em perceber os limites da sua criatividade nas histórias que inventa ou nas desculpas que dá, para além de ainda ter dificuldade em perceber o que é certo ou errado.


Depois dos 10 anos, as crianças já sabem exatamente quando  estão a mentir (e como mentir), emergindo fatores sociais e familiares que se podem sobrepor à fase do desenvolvimento e que intensificam ou não o recurso à mentira. Veremos alguns destes fatores numa próxima publicação.

Alexandra Barros
Responsável pelo Departamento de Infância

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