segunda-feira, dezembro 08, 2008

CONSUMO OU POUPANÇA?


A crise instalou-se, e este país pequenino, pobre e vulnerável, sempre encostado aos grandes, parece ainda mais deprimido. Nos jornais os economistas debatem se as políticas económicas para nos salvar desta desgraça deverão ou não keynesianas. Ou seja, se se deve estimular o consumo, injectando liquidez no sistema ou, pelo contrário, estimular a poupança (ler, a este propósito, o artigo de Francisco Sarsfield Cabral de hoje no Público).
A questão diz respeito a todos nós, porque está em causa não só o nosso quotidiano como o futuro, nosso e dos nossos filhos. Sempre me fez confusão a facilidade (comodismo?) com que os portugueses se abstêm de discutir ou sequer reflectir sobre estes assuntos, como se fosse coisa para “especialistas” e não para o cidadão. Pela minha parte, e apesar de pensar que andámos a consumir demasiado nos últimos anos (nunca a poupança das famílias foi tão baixa) e acima das nossas possibilidades, julgo que há que estimular agora o consumo e controlar a inflação num segundo tempo. Na economia, como na vida, há que proceder na maior parte das vezes a pequenos ajustes que não matem o doente mas que lhe permitam um maior qualidade de vida.

4 comentários:

João Guerreiro disse...

Olá Clara,

há realmente muito ao nosso alcance, se bem que existem aspectos culturais que não podem ser esquecidos. Uma das causas que os tais especialistas apontam para o agravamento da nossa situação económica em particular é a pouca cultura de aforro que temos em Portugal. Isso teria obrigado a nossa banca a sobrendividar-se, resultando nos problemas macro-económicos que levaram às recentes intervenções do Estado. Onde é que radica em teu entender este hábito de poupança que, regra geral, não temos no nosso país?

Retomando o tema da tua tese de doutoramento pergunto-te: decorrerá de um sentimento de culpa? A culpabilidade associada à criação de fortuna. Será por temermos a inveja do outro? Gostava de saber a tua opinião sobre isto.

Clara Pracana disse...

João,

Concordo contigo que existe uma questão cultural que não é propícia à poupança e que poderá a ter a ver com o catolicismo. Os protestantes não tinham esses pruridos e sempre souberam acumular capital enquanto a gente (já nesse tempo, e estou a falar do sec XVII em diante) o desperdiçava em produtos importados. Contra esta minha opinião, no entanto, existe a memória do Estado Novo, época muito dada a aforro. É claro que nessas cinzentas décadas a economia era muito mais fechada. Hoje será mais difícil travar o consumo desenfreado.

Clara Pracana disse...

João,

Ainda a propósito da tua questão, uma outra coisa que também foi fatal para a nossa economia, a partir do seculo XVI, foi a expulsão dos judeus. Isso explica também o atraso com que a banca se desenvolveu em Portugal.
Aqui também podes estabelecer ligações com a inveja... Esse mal nacional. Embora seja preciso distinguir entre uma inveja maligna, destrutiva, e um outro sentimento mais ligado à emulação e que até pode ser criativo e factor de crsscimento (pessoal e colectivo).

Clara Pracana disse...

Commonsense faz este comentário, que eu estou a postar porque Commonsense está com problemas técnicos em aceder aos comments:

Como todos os recém-aderidos à UE, os portugueses acharam-se com direito ao nível de vida que pensavam ter os alemães, mas sem trabalharem como eles. Está agora a acontecer nos membros mais recentes.
Os Bancos, irresponsavelmente, deram crédito a tudo e a todos, sem pensar nos riscos que corriam. Acumularam "bad credit". Refinanciaram-se no Japão a taxas próximas do zero. Ultrapassaram os limites mínimos de solvência sem que o Banco de Portugal pestanejasse.
Tonteria, tonteria, tudo é tonteria e vento que passa!
Agora, concordo que é melhor baixar o IVA para estimular o consumo que deitar baldes de dinheiro em cima de falências duvidosas e de obras faraónicas.
Mais tonteria, mais vento que passa!
A depressão colectiva não é emergente de um sentimento de culpa; é da consciência da impossibilidade, da incapacidade, do "non possumos". Mais do que depressão, é tristeza!
Tudo isto existe... tudo isto é triste... tudo isto é o que é...
Commonsense (http://commonsense.blogs.sapo.pt/)