domingo, novembro 09, 2008

A crise e as competências emocionais/soft skills


Como acho que muitos dos leitores deste blog sabem, eu trabalho há muitos anos em áreas relacionadas com a gestão de recursos humanos, o desempenho pessoal e o desenvolvimento de competências, mentoring, etc.. Tenho-me apercebido da necessidade crescente de as pessoas estarem preparadas para enfrentar esta terrível crise económica internacional, que ainda mal começou (até agora tem-se revelado sobretudo na área financeira, o pior vai ser quando chegar mesmo às empresas). Aqueles de quem vai ser exigido mais não são, no entanto, os que estão na minha faixa etária (já algo avançada:)). São os que estão na faixa dos vinte e tal, trinta e quarenta que vão ter de se adaptar rapidamente a novas formas de desempenho e de lidar com a(s) crise(s) – externa e interna.
A verdade é que hoje em dia não basta ter um diploma e as competências técnicas. Os empregadores privilegiam cada vez mais qualidades como a auto-motivação, capacidade de trabalhar em equipa e de motivar os outros, resiliência e capacidade de utilizar as próprias emoções, mesmo em circunstâncias adversas.
Há dois anos leccionei um seminário teórico sobre esta matéria no ISPA, num mestrado. Gostaria de saber agora se haverá interesse da parte de outras pessoas, das mais variadas profissões (comércio, serviços, banca, seguros, informática, etc, etc) em participar num curso mais prático de soft skills, com um número reduzido de participantes.
Fico à espera de reacções dos leitores/bloguistas.

10 comentários:

Unknown disse...

Eu talvez esteja interessada nessa formação, tenho algumas lojas e as minhas empregadas nem sempre conseguem cativar os clientes. Não percebi bem o que é isso das soft skills. Pode explicar melhor?

Clara Pracana disse...

Carla

Não conheço o caso concreto, mas as suas empregadas poderão não estar motivadas. E sem motivação como podem elas relacionar-se positivamente com os potenciais clientes?
As soft skills não são propriamente uma técnica de vendas. São competências emocionais de cada um de nós e que podemos aprender a desenvolver no sentodo de melhorar a nossa qualidade de vida. Em primeiro estamos temos de estar nós e o nosso gosto por fazer as coisas, o prazer que podemos retirar de fazer algumas coisas bem feitas. Só a partir daí poderemos ser eventualmente capazes de entusiasmar os outros.
Não sei se fui clara, mas o assunto é bastante complexo e envolve uma série de factores, daí a minha ideia de organizar cursos nesta área porque noto que é frequente as pessoas não darem a vida importância às competências emocionais e não saberem explicar os problemas que se sucedem ao longo das suas vidas, às vezes com um carácter repetitivo.

luisa disse...

Clara,

Não a conheço pessoalmente mas comecei a ler recentemente este blog a conselho de uma amiga minha que está em psicoterapia na Psicronos com uma sua colega.
Tenho 36 anos, sou licenciada em gestão e bancária. De há um ano para cá, sinto que estou permanentemente stressada e a perder o controle das coisas. Não é que a vida profissional me corra mal, é sobretudo sentir que me falta qualquer coisa para perceber melhor algumas situações, sobretudo os conflitos que surgem cada vez com mais frequência. Acho que a crise nos põe a todos mais assustados e eu estou a sentir que não estou a lidar bem com as situações, o que me torna ainda mais ansiosa. Já pensei se deveria iniciar uma psicoterapia para me fortalecer mas talvez preferisse, por agora, centrar-me mais nestas questões de que fala no seu post. Gostaria de saber mais sobre esse curso de soft skills. Quando está a pensar iniciá-lo? Que tipo de habilitações pedem? Quanto custaria?
Obrigada e um abraço para todos
Luisa

Clara Pracana disse...

Luisa,

Tenho acompanhado vaários casos de pessoas com a sua profissão, e sei bem as pressões a que estão sujeitas. As exigências nunca têm fim, não é? A resiliência é uma das competências emocionais mais importantes neste contexto.
Por outro ladoa ansiedade eo conflitos são inevitáveis e, nesta época de mudança, cada vez mais. Mas podem também ser uma oportunidade para fazer das nossa fraquezas forças. Não tenho dúvidas de que poderia tirar benefícios de uma psicoterapia pessoal. Mas nada obsta aque, se este assunto lhe interessa, frequente o nosso curso. Até poderá ser uma oportunidade de se conhecer melhor e perceber melhor os outros.
Quando tivermos datas e preços, deles daremos notícias ou aqui ou no site da Psicronos. Estou a apontar para o início do próximo ano, tudo depende das inscrições. Quanto às habilitações, académicas ou outras, naõ se preocupe com isso. Queremos ter partipantes com percursos profisssionais e mesmo idades variadas, para que a troca de experiências seja mais frutuosa.

Miguel Fabiana disse...

Clara,

Estou muitíssimo interessado em participar num curso mais prático de soft skills. Recentemente finalizei um MBA em Liderança. A Inteligência Emocional bem como a Liderança Emocional foram um dos temas que descobri com muito gosto, bem como o uso do Coaching (técnicas e metodologias) como uma das várias "ferramentas" de um Sistema de Liderança.

Ficarei à espera dessa sua iniciativa e se for do seu interesse, poderei propagar a informação que entender oportuna, através dos meus 23 colegas do MBA.

Melhores Cumprimentos,
Miguel

Clara Pracana disse...

Miguel,
Fico muito contente por estar interessado e em querer motivar mais pessoas. Só com esse entusiasmo é que se consegue tirar um MBA e falo por experiência própria. Já era ssim quando eu o tirei, nos anos 80.
E agora, que a concorrência é maior, mais capacidade de auto-motivação é necessária.
Yes, we can, como diz o outro senhor. Vamos a isso. As datas serão divulgadas ou aqui ou no site da Psicronos, mas eu provavelmente também o farei através da AMBA.
Já agora, se não se importa, faça-me chegar o seu e-mail para podermos trocar impressões mais aprofundadas sobre o conteúdo dos workshops. O meu é cp.vertigo@gmail.com.
Abraços

vanessa disse...

Tenho andado a seguir a vossa troca de ideias e gostava que me explicassem quem é que se pode preocupar com "soft skills", emoções e mais não sei quê quando temos é de contar os tostões no fim do mês. Alguém me explica? Eu trabalho num bairro problemático, como lhe chamam, com jovens de cor, e esses, sim, é que estão em crise.
Desculpem lá o meu desabafo.

Piotr Kropotkine disse...

Ora bem. No contexto presente, em que a crise é apenas mais uma borbulhagem (embora de tamanho gigante) num problema estrutural maior (com a geração 500 euros a ser usada como carne para canhão, a incapacidade de construirmos uma narrativa da nossa vida profissional tal é a incerteza que pesa permanentemente sobre nós, a deslocalização da economia industrial para oriente, a "fuga" da economia do "conhecimento" para o mesmo azimute e finalmente com o suicidio colectivo da economia "financeira", no ocidente ficámos com um belo balde de .... de modos que as próximas gerações provavelmente ganharão menos em termos absolutos que os pais ganharam, e os midlle agers ficarão num belissimo limbo quanto à pensão e à "empregabilidade".....) em função desta série notável de problemas parece-me bem util que nos armemos de skills bem soft (no dizer dos economistas) mas que serão bem hard para aguentarmos mais ou menos sãos da tola o que aí está e aí vem.....

Provavelmente é melhor armarmo-nos destas skills do que de mais álgebra ou mesmo do Magalhães....

Unknown disse...

Já há dois dias que não vinha a este blog e fiquei muito satisfeita de ler tantas contribuições tão interessantes. Em primeiro lugar quero agradecer-lhe, Clara, pela sua explicação; de facto, cheguei a pensar que fosse uma ferramenta para ajudar as pessoas a melhorarem as suas competências de vendas, mas acho que está tudo relacionado, não é? Se a pessoa melhorar as soft skills poderá estar mais capaz de lidar com as outras pessoas e isso é fundamental nas vendas, não lhe parece?
Eu compreendo também o desabafo da Vanessa. Quando a situação financeira fica mais apertada parece que não temos espaço para pensar em mais nada nem dar valor a mais nada, mas não será precisamente nessas alturas que é importante arejarmos a cabeça e vermos tb o que podemos melhorar.
Qual é então a diferença entre as soft skills e a inteligência emocional, Clara?

Clara Pracana disse...

Carla,
A expressão soft skills é usada hoje em dia como referência também à inteligência emocional num contexto mais sociológico.
São apenas designações para um conjunto de capacidades que partem de uma ideia base: capacidade de nos apercerbermos das nossas emoções e das dos outros e sabermos lidar com elas. A expressão "Inteligência emocional" ficou mais no ouvido das pessas por causa do livro do Daniel Goleman (1995) que foi um êxito. Também podíamos chamar-lhe competências relacionais, por exemplo. E a gama de emoções é enorme, como se imagina. Distingui-las não é fácil. Mas é importante fazê-lo para podermos lidar com elas.
A Vanessa, por exemplo, está certamente frustrada, e com razão. Não deve ser fácil trabalhar com jovens em bairros ditos problemáticos. Mas, como diz a Carla, é nas situações de crise que temos de ter estas capacidades mais afinadas.