quinta-feira, junho 15, 2006

Prime - Terapia do Amor

No filme Prime, traduzido em português por Terapia do Amor, Meryl Streep interpreta o papel de uma psicoterapeuta e Uma Thurman representa o de paciente.

O filme em si, na minha opinião, não é particularmente bom, mas levanta um problema ético de difícil resolução e que todos nós, psicoterapeutas, corremos o risco de ter que enfrentar em algum momento do nosso percurso profissional.

A paciente apaixona-se e envolve-se com o filho da psicoterapeuta sem ter consciência desta relação de parentesco. O conflito psicológico e ético em que esta situação coloca a psicoterapeuta (dado que é ela quem percebe em primeiro lugar que o filho é o namorado da paciente) é bastante bem retratado no filme, se bem que não a um nível muito profundo.

A decisão da psicoterapeuta de continuar a seguir a paciente sem lhe dizer que o namorado dela é o seu filho é, para muitos, no mínimo, questionável; contudo a decisão inversa, a de contar de imediato à paciente que a pessoa por quem ela se está a apaixonar é o seu filho, também seria igualmente questionável. Este não é um problema de fácil solução e qualquer que seja a posição do psicoterapeuta, esta pode ser defendida e atacada.

No filme a psicoterapeuta opta, até a um certo ponto da história, por não dizer nada à paciente e tenta esforçar-se por pensar e viver aquela situação como se não se tratasse do seu filho, mas de qualquer outro rapaz. Tenta, num certo sentido, manter uma posição profissional, não querendo prejudicar a paciente por aquilo que lhe parece, na altura, uma situação passageira e sem futuro. Ao longo das sessões podemos observar o profundo incómodo da psicoterapeuta com o relato minucioso e íntimo da vida do casal e a necessidade que tem de recorrer ela própria a um psicoterapeuta para tentar lidar com a situação que está a viver.

Quando a psicoterapeuta percebe que a relação entre o casal é mais intensa e duradoura do que estava à espera e, simultaneamente, pressionada pelo tumulto interno que as revelações da paciente geram em si e temerosa de poder estar a prejudicar a paciente e “futura nora”, resolve contar-lhe que é a mãe do seu namorado. Esta revelação põe um ponto final à psicoterapia e abre espaço para que as duas mulheres passem a ter uma relação privada, a qual, no entanto, contínua contaminada pela relação anterior. O filme não trabalha muito esta parte relativa às consequências da contaminação da relação psicoterapêutica anterior na relação actual.

No fundo, o problema que o filme coloca é o de saber o que fazer quando no decurso de uma psicoterapia o nosso paciente passa a relacionar-se de forma íntima com alguém que também faz parte do nosso círculo pessoal. Devemos ou não revelar ao paciente o nosso laço particular com a pessoa envolvida.

Na minha opinião, a decisão da psicoterapeuta do filme foi a mais correcta. Isto é, não se precipita a revelar de imediato a ligação, tentando simultaneamente perceber o momento em que a retenção dessa informação causa modificações na forma como conduz a psicoterapia.

Quando a psicoterapeuta percebe que o frágil equilíbrio entre o benefício e o prejuízo se inclina no sentido de ser prejudicial para ambos (psicoterapeuta e paciente) deve, na minha opinião, revelar e dar por terminada a psicoterapia, por não existirem condições adequadas para a realização da mesma.

4 comentários:

Laura_Diz disse...

Não vi o filme ainda.
Mas acho que para mim seria difícil escutara a paciente falar de meu filho e não revelar, mto estranho, como ser imparcial e ajudar numa situação destas?
abs laura

Eunice disse...

Penso que é aí mesmo que reside a diferença entre um bom e um mau psicólogo.
Sendo ou não questionável a atitude, o ser imparcial é uma caracteristica de ser psicólogo.

Juliano Coimbra disse...

Achei interessante o que a nossa amiga Eunice falou: das diferênças do bom e mau profissional de Psicologia, da imparcialidade...
Creio sim que devemos ser imparciais, mas até que ponto isso afetará nossas vidas??? Somos humanos, limitados... Existem momentos que devemos olhar para nós e sair da útopia, afinal temos nossas diferenças e limitações, só nos cabe observarmos como profissionais, até onde isso pode está trazendo danos para o psicoterapeuta e o paciente o nosso papel é agir com ética desde que não traga danos para ambos.

Juliana de Mattos disse...

O problema não é ser imparcial, é que acabou a relação de neutralidade. Quando isto termina, estamos sujeitos a nos tornarmos julgadores. Por mais que sejamos psicólogos somos pessoas, querendo ou não alguma questão irá mexer com algo mais mal resolvido com a família, não há como ligar e desligar essas áreas do cerebro. Pra mim ela deveria ter conversado com a paciente assim que descobriu e juntas decidido o que seria melhor para ambas (como terapeuta-paciente), eu sou a favor da sinceridade e da ética sempre.