sexta-feira, junho 30, 2006

A importância da sinceridade e da honestidade nas relações amorosas

Dentro da lógica que apresentei no post anterior, gostaria de lançar o debate sobre a importância da sinceridade e da honestidade nas relações e conquistas amorosas.

Quando penso numa ética das relações amorosas, uma das primeiras ideias que me ocorre é a importância da sinceridade das pessoas consigo próprias e face ao companheiro(a).

A sinceridade e a honestidade são conceitos muito amplos e difíceis de definir e enquadrar. Um dos meus autores preferidos, Wilfred Bion, diz num dos seus livros. “Verdade sem amor é crueldade e amor sem verdade é hipocrisia”.

Quais são os limites da sinceridade e da honestidade?

A máxima “verdade a qualquer preço” poderá ser aplicada com rigor nas relações amorosas? Dizer à namorada “hoje estás horrível!” só porque é verdade ou pelo menos é a verdade que se percepciona nesse momento, é bom? É bom para quem? Para a pessoa que ouve? Para a pessoa que diz? Para a relação? Nesta situação, dever-se-ia mentir? Dever-se-ia omitir?

7 comentários:

Raquel Félix disse...

Boa noite Ana, cá me estreio na escrita do blog!Um tema bastante interessante ao qual não podia ficar indiferente. A sinceridade e a honestidade começam a ter uma maior relevância numa relação amorosa quando a falta das mesmas surge, não tanto para com o outro, mas particularmente em relação ao eu, à minha pessoa, para comigo. Surge um pouco à medida do "se não me amo, então como poderei eu amar um outro?".
Para terminar, penso que a vida, as relações e ralações da mesma se conseguem conjugar muito bem com as pequenas, mas por vezes necessárias, mentiras.
Este é um tema com pano para muitas mangas!

Ricardo Pina disse...

Muito bom dia! Já que foi lançado o debate, tomo a liberdade de intervir. O seu exemplo do «hoje estás horrível!» foi absolutamente fantástico. Porque demonstra claramente que a sinceridade in extremis pode acarretar sérias inconveniências... Nesse aspecto, concordo com o que disse felixthe cat ao falar na importância das pequenas, mas por vezes necessárias, mentiras. Atrevo-me até a lançar uma questão: será que como no psiquismo individual, no qual a consciência «filtra» a realidade por meio dos mecanismos de defesa, oferecendo preponderância a uns em detrimento de outros, e tudo em favor de um equilíbrio (não obstante a deturpação inevitável da realidade que tal acarreta), a relação necessita também ela dessa «filtragem»? Para ela conseguir o seu equilíbrio? Poderá assim explicar-se o sucesso ou insucesso de um relacionamento por meio dos pontos de vista tópico, dinâmico e económico da teoria psicanalítica? Da minha parte, continuarei a reflectir sobre isso.

Ana Almeida disse...

Olá, Raquel e Ricardo. Sejam bem-vindos e espero que sejam os primeiros de muitos contributos. A troca de comentários é o sistema respiratório de qualquer blog e aquilo que, na minha opinião, o torna verdadeiramente interessante.

Para a Raquel (felixthecat) a questão da sinceridade surge na ausência dela e de certa forma ela coloca a questão não tanto na particularidade da mentira, mas na mentira sobre o próprio afecto, sobre o amor “se não me amo, então como poderei amar um outro?”. Sugiro que se pense nesta questão da seguinte forma: a mentira é mais grave quando não temos consciência dela. Se nos iludirmos sobre o amor (em quantidade ou na qualidade) que temos por nós próprios, corremos igual risco de iludir o outro sobre o amor que temos por ele.

Mas será isto, mesmo verdade?!

Será que não podemos amar o outro, mesmo quando não nos amamos? Será que podemos não nos amar de todo? Será que junto do amor que nutrimos por nós, não haverá também sempre um ódio ou um desamor por nós? Será que as dinâmicas entre o amor e ódio estão sempre, e necessariamente, presentes e que o problema reside na proporção que cada um deles ocupa na personalidade num dado momento? Será que a mentira é consequência do ódio, da agressividade ou do desamor?

Tantas e tantas questões. O que são pequenas mentiras? Quem e como se determina uma pequena mentira? Serão as pequenas mentiras, as mentiras piedosas?

O Ricardo acrescenta, na minha opinião, uma ideia muito interessante: a ideia do filtro. A ideia de que uma relação para se manter saudável (foi pelo menos o que eu entendi) tem que filtrar as percepções, provavelmente nos três eixos fundamentais (a percepção de nós na relação; a percepção do outro na relação; a percepção da relação em que estamos nós os dois) e essa filtragem poderá obedecer a um jogo de forças equiparável ao que o ego tem que fazer para gerir os conflitos entre o Id, o Superego e a Realidade; articulando o principio do prazer/desprazer e o principio da realidade. É uma ideia muito interessante, mas arrojada. Onde será que nos leva uma ideia destas?! Se nos ativermos ao campo da psicologia do ego (a escola de psicanálise) podemos desenvolver em muito esta ideia e até conseguir construir um novo edifício conceptual para a compreensão da psicologia relações amorosas. O que acha do desafio, Ricardo? No mínimo a mim parece-me muito trabalhoso.

Ricardo Pina disse...

Ainda bem que gostou da minha reflexão, Ana, e sinto-me lisonjeado por te-la considerado interessante. Sem dúvida, percebeu muito bem as minhas palavras e soube transpô-las correctamente nas suas. Na sua divisão triaxial, todavia, eu utilizaria outros conceitos, mas que acabam por ir ao encontro daquilo que disse. Costumo dizer que, numa relação, 1+1=3, sendo que «eu» mais «tu» é igual a «eu», «tu» e «nós». Significa isto que uma relação integra, em simultâneo, (1) a percepção de mim próprio, (2) a percepção do outro e (3) a percepção do «nós» ou da relação; e este mesmo raciocínio deve ser aplicado a ambos os intervenientes na relação.
As outras formulações que deixou são intocáveis, de tão inteligíveis.
Quanto ao repto que me lançou, bem... costumo reforçar a motivação nos meus pacientes dando-lhes a entender que as mais importantes conquistas são por norma as mais duras e demoradas... Que pensariam eles se não agisse de uma outra forma?:)

K'os disse...

depende da forma e do modo como for dito, e do próprio modo de falar

mentir acho que não,
acho preferível então omitir

por pequena que seja a mentira leva a caminhos algo difíceis


:)

Cleopatra disse...

Posso dizer que não minto.
Omito.

PRADO-NETTO disse...

Gostaria de Saber o impacto desse livro no Brasil, pois aqui na França abriu um debate super interessante sobre as psicoterapias. Li "o livro negro" e o livro defensor de Roudinesco, "porque tanto ódio( [1]pourquoi tant de haine ?)". Acredito que tanto a TCC (Terapia comportamental e Cognitiva) quanto a psicanálise tem seu lugar como método de pratica na clinica. O Grande problema é que o bom terapeuta tem que saber triar o seu próprio caminho, sem dizer sou 100% psicanálise ou 100% TCC, deixando de aprender o lado bom de cada método. Antes de qualquer coisa, gostaria de deixar a minha opinião sobre esse livro que ainda não foi lançado no Brasil.
Acredito, assim como confirma Roudinesco no livro (Le patient, le thérapeute et l'État-2004) , que a TCC vai se impor de forma progressiva nas Universidades e na clinica. Uma vez que esse método é mais adaptado ao século XXI. O terapeuta adota um estilo particularmente apreciado pelo paciente, diferente da imagem clássica dos psicoterapeutas distantes, imperturbável, mudo etc. A relação é mais dinâmica, pois se trata de técnicas rápidas, uma [2]TCC dura em media entre 10 à 20 seções ( cerca de 2 à 3 meses), em alguns casos mais grave 6 meses, em todo caso é difícil TCC de mais de 1 ano. O terapeuta propõe a seu paciente um contrato de colaboração. Na maior parte ele explica a pessoa que se trata de um trabalho de equipe em vista de uma cura. A relação é tripla :
Interatividade: durante uma seção, o terapeuta explica, pergunta e responde as questões do paciente.
Pedagogia e clareza: a linguagem utilizada é simples (o que não quer dizer que seja simplista), as explicações são compreensíveis.
Colaboração e igualdade : os objetivos são concretos e realistas, nada é imposto, tudo é exposto, proposto e discutido. Na maioria das vezes o paciente tem algumas anotações a serem feitas em casa.
Vale lembra que o resultado de analise do organismo francês de pesquisa INSERM que esse livro aborda. Grosso modo esse “famoso” resultado que foi retirado por interferência de alguns psicanalistas franceses influentes na política, avalia a éficacidade de 3 tipos de psicoterapias, TCC, terapia psicanalítica e terapia familial. Enfim de 16 síndromes patológicos analisados a TCC foi eficaz e validada em 15, a terapia familial em 5 e terapia psicanalítica somente em um: transtorno da personalidade. O único que a TCC foi menos eficaz que a psicanálise foi em transtorno da personalidade, possivelmente devido a duração do tratamento em media menos de 6 meses em TCC e em psicanálise de um à 3 anos.
Deixando os conceitos básicos da TCC, volto a falar sobre porque esse método tende a predominar. Como muitos Brasileiros que vieram pra França fazer pós em psicanálise, acabei de mudando meu percurso para TCC, que se impõe a cada dia na clinica. Uma terapia que se aplica a vários transtornos, entre eles: TS (sexuais), TOC, toxicomania , fobia, ansiedade etc . E o mais importante os resultados são testados e manipulados o que significa uma melhora a cada dia, por exemplo em comparação ao resultado do [3]INSERMM o transtorno da personalidade hoje é sabido que um tratamento de duração maior é mais eficaz por isso a psicanálise funciona melhor, o que cria novas perspectivas e readaptações na TCC. E onde ficou a Psicanálise esse tempo todo? A TCC evolui a cada dia, a Psicanálise menos ficou perdida em instituições, escolas etc Os autores têm toda razão quando dizem porque agente não pode criticar a psicanálise? Quando isso se faz é porque somos recalcados, temos resistência? A TCC funciona super bem em caso de toxicomania, a psicanálise demora a funcionar deixando o sujeito morrer de overdose. Tirando alguns exageros do "livre noir", é uma obra essencial para psicólogos e psicoterapeutas que pensam em seguir uma carreira. Outra coisa importante é que a psicanálise mesmo na França já esta perdendo, basta olhar o numero de Máster e doutorado na área de ciências cognitivas e comportamentais. Exceto Paris 7 e 8, as Universidades francesas estão tomando rumo diferente, quando optam pelo corrente psicanalítica é por um discurso mais pratico e aplicado a pratica em terreno, não filosofia e mitologia. Para concluir a TCC esta a cada dia se renovando e integrando algumas técnicas de inspiração psicanalítica na sua pratica, sem preconceito de ser ou não psicanálise. Veja o exemplo Hospital Saint-Anne em Paris, essa mais equipe acredita na interação entre esses dois métodos (Psicanálise e TCC). Nada impede o terapeuta de utilizar um desses dois métodos segundo a necessidade do paciente. Se somos formados nessa intenção, o importante em primeiro é o paciente, depois método e intuição. Por isso é necessária uma formação nesse dois métodos. A TCC enfrentou muito preconceito na França o que resultou num certo atraso em formar profissionais nessa área. Jean Cottraux um dos fundadores da TCC na França, o qual foi aluno, é um excelente profissional, basta olhar a lista da sua obra em TCC na França, que infelizmente não foi lançada nenhuma no Brasil talvez pelo o extremismo da psicanálise. Como em tudo na ciência, lembre-se do provérbio: nem tanto nem tão pouco. O extremo nos impende de enxergar o outro lado. Também não sou a favor a 100% dos anti-Freud, sei que a psicanálise abriu varias perspectivas, mas não é o único método disponível.Entende-se o pânico dos psicanalistas, pois esse método esta em crise desde dos anos 70.E se encontra desde então o seu "Gueto" na América latina e França. E na França por ser um pais com recurso o avanço da TCC é promissor como mesmo afirma Roudinesco, o numero de TTCista na França dobrou no inicio dessa década. Sem contar todo o preconceito os homossexuais e a homoadoção, devido à representação da família etc que defende a psicanálise. [4]Jacques Alain Miller participou da emissão de um debate na televisão francesa junto com Elizabeth Roudinesco e outros para falar sobre o casamento gay, o herdeiro de Lacan deu um vexame não conseguia precisar se ele era de acordo ou não, dizia que Freud dizia isso, Lacan achava aquilo, o apresentador perguntou e o senhor acha o que ? Ele não respondeu.
Volto novamente a Roudinesco, ela sim deu sua contribuição clara, sou a favor e pronto, ela mesma cita no seu livro: "porque tant de haine?" Que a psicanálise ficou para traz devido em parte ao conservadorismo, não ter apoiado a homoadoção e o casamento entre homossexuais é um dos exemplo. Em todo caso “o livro negro da psicanálise” vendeu 23 mil exemplar em apenas 15 dias, esgotou rápido pedindo nova edição. [5]E pela 1ºvez na França as famílias de crianças autistas contestaram o monopólio e a ineficacidade da psicanálise, ousando atacar o estado francês por terapia inapropriada. O livro aborda ainda a morte de vários toxicomaníacos por overdose em tratamento psicanalítico.
Essa discussão é apenas uma forma de mostrar a imprecisão que as instituições de psicanálise vivem nos últimos anos, do discurso repetitivo que Freud disse tal coisa em 1901, depois Lacan disse outra em 1950 etc, Ufa ! Não deixa de ter uma riqueza conceptual, isso claro! Contudo esquece a pratica ou a aplicação da mesma na clinica. E sem contar os anos? 5, 10, 15 anos de analise ? Agente pode pensar será que no século XXI um homem de 30 anos, por exemplo, com transtorno sexual tipo impotência vai esperar 15 anos para se tratar com ajuda da psicanálise e perder boa parte da juventude ou vai preferi utilizar uma terapia mais rápida de menos de 6 meses que esta sendo testada por vários estudos clínicos e aprimorada a cada dia ? De todo modo é normal a reação da psicanálise, pois para continuar ela precisa sobretudo de adeptos, por enquanto ainda tem a Argentina e o Brasil como mercado, por isso é necessário defender a aposentadoria desses psicanalistas, mas até quando a América Latina vai se submeter a essa falsa ciência, como diz os anti-Freuds ? Esperamos pelo menos que nosso pais não seja tão radical para fechar os olhos para essa realidade, o Brasil tem espaço para essas duas Terapias, que vença a melhor, ou até mesmo que elas se transformem numa so quem sabe?
Nesse sentido que “o livro negro da psicanálise” pode ser útil para nós, psicoterapeutas.
Bom espero que minha critica tenha sido importante e proveitosa para os colegas brasileiros. Sou doutorando em psicologia em Paris meu endereço email é: jozivaldo33@yahoo.com.br
[1] Roudinesco E -2004
[2] Palazzolo J – Guerrir Vite – Hachette -2005
[3]Meyer C- le livre Noir de la psychanalyse –Les arenes-2005
[4] Tout le monde en parle "TF2- émission de 2004-2005
[5] L’association LEA pour Samy et la voix de l’enfant Autiste, octobre 2006.

COMENTARIO DE REGINA BRAGA PUBLICADO NO ENDERECO : http://olivronegrodapsicanalise2.blogspot.com/

Parabens ! Excelente critica, li a entrevista na Folha de São Paulo da Roudinesco (http://lauravive.blogspot.com/2006/05/um-compl-arcaico-elisabeth-roudinesco.html) e percebi que dos seguidores da psicanálise, é uma das poucas que consegue vê os erros que a nova geração de psicanalista comente, percebe-se nas entre linhas que foi uma disciplina que não acompanhou a sociedade.
Sou psicóloga de orientação psicanalítica, não quis me associar as escolas, porque acredito que como psicoterapeuta posso ir mais além. Mesmo porque acredito também que não devemos nos fechar para as novas técnicas como a TCC.
Na entrevista da Roudinesco ela confirma que esse debate tem 50 anos de atraso, que há muito tempo a biografia de Freud escrita por Ernest Jones já era criticada nos Estados Unidos. E que esse debate chegou na França muito atrasado.
A única que coisa que ela omitiu foi que essa discussão não chegou até a França antes porque não tinha nenhuma abertura. E que como você (http://olivronegrodapsicanalise.blogspot.com/) fala na sua critica foi somente à partir dos anos 90 que a TCC foi mais difundida neste pais, que mostrou uma abertura para as outras disciplinas. Outro dia li um algo sobre a psicologia da saúde na França, ela atrasou quase 10 anos, segundo Bruchon-Schweitzer (Introduction à la psychologie de la santé-1994) esse atraso foi devido ao fato da França ser o país da psicanálise e não ter encontrado abertura para tanto.
Para terminar se os textos são antigos ou não, para nos que estamos contaminados pela psicanálise e que não vimos o tempo passar esse texto é novo.
Optei pela psicanálise porque não tive opção na Faculdade, além do mais com quantidade de seitas e terapias de inspiração parapsicológicas inseridas na psicologia clinica, a psicanálise pelo menos por aqui é ainda o mais serio método de psicoterapia. Espero que não demore mais 50 anos para chegar esse livro no Brasil, assim como a difusão da TCC no Brasil. Até agora não li num jornal brasileiro algo positivo desse livro, talvez os jornalistas ainda tenha medo de dar passo em falso, além do mais é aquela longa historia se você critica é porque é resistente, tem ainda algo a rever em analise, etc... Por isso meus parabéns mais uma vez por sua critica (http://olivronegrodapsicanalise.blogspot.com ).
Regina Braga
Psicóloga