A sociedade actual estimula a cultura do narcisismo. Cada vez mais competimos de forma acirrada por um “lugar ao sol” num mundo em que impera a lei do mais capaz e do sucesso ou da aparência dele.
As exigências de sucesso provocam um enorme desgaste. As pessoas sentem-se obrigadas a atingir metas idealizadas e a ultrapassarem a qualquer custo as suas limitações. Instala-se um conflito entre o “eu idealizado” e o “eu real” que nos leva a desenvolvermos a crença de que valemos mais pelo que temos ou aparentamos ser do que pelo que realmente somos.
A ânsia de reconhecimento faz com que a aparência tenha um enorme valor; quando somos confrontados com a diferença entre aquilo que pretendemos ser e aquilo que somos verdadeiramente a nossa auto-estima sofre, e esta diminuição da auto-estima torna-nos vulneráveis à depressão.
5 comentários:
concordo.
A questão é mais grave que isso, visto que para atingir um lugar ao sol actualmente até já se valoriza o roubar e enganar outras pessoas... não é a questão moral que me preocupa. É a questão ética! Ou seja as regras não são iguais para todos.
E quem quer apenas ter uma vida "normal" é quase forçado a assumir determinados comportamentos menos éticos apenas para sobreviver no seu posto de trabalho.
Mas é apenas uma opinião...
Olá Dra. Ana. ;) Gostaria de acrescentar mais uma questão à discussão.
Numa sociedade que aclama e aplaude a exaltação narcísica, não serão as dificuldades individuais mais internas do que externas? Não será mais uma fragilidade na capacidade para se aceitar como se é, que origina uma busca incessante do “eu idealizado” que, esse sim, faz uma colagem aos aspectos narcisantes do meio, como o sucesso por exemplo. Funcionando assim o sucesso, etc., como um compensador externo que alimenta a sede interna de auto-estima, amor-próprio, ou suficiente satisfação com o “eu real”.
Tendo em conta este ponto de vista, a depressão surgirá quando o próprio se confronta com a sua insatisfação e insegurança que persistem quaisquer sejam as gratificações ou reconhecimentos externos?
Olá, Eliana!
Tive muito gosto em ler o seu comentário. Concordo com a sua posição. Colocar as “responsabilidades” apenas no externo enviesa a compreensão e a leitura do que “verdadeiramente” acontece. Acho, tal como diz, que a depressão se organiza na inter-relação entre o interno e o externo, se a pessoa tem uma auto-estima bem constituída, sólida e uma capacidade de auto-narcisação bem organizada não tende a aderir aos valores sociais que exacerbam os aspectos narcísicos e portanto também não fica tão fragilizada no confronto entre o seu “eu ideal” e o seu “eu real” porque o ideal não está inflacionado. E o que inverso também será verdade como tão bem explica. Será um buraco que nenhuma narcisação externa preenche.
Creio que a cultura do narcisismo equivale a uma autodestruição e a uma aniquilação do outro, sendo portanto uma destruição do todo. E mais uma vez se prova que o ser humano é um destruidor desenfreado em busca de um poder que nada vale. Na verdade temos que ser bons, para sobreviver. Mas, precisamos de guardar os nossos valores para sobreviver, harmoniosamente e feliz.
Andamos sob stress e somos o país mais triste porque não sabemos competir, seguindo preceitos éticos e morais.
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